terça-feira, 15 de junho de 2021

Vagner Gomes de Souza* - Um Passo Atrás para Dar Dois Adiante no Rio de Janeiro

Não podemos contar com uma disputa eleitoral que seja fácil no Estado do Rio de janeiro na sucessão estadual de 2022. O desconhecido Governador Cláudio de Castro tem essa desvantagem como vantagem, pois os pontos negativos de sua gestão recaem para os mandatários municipais recém-empossados. No caso da Capital, a gestão do Prefeito Eduardo Paes sobrevive aos trancos e barrancos ao contingenciamento do Orçamento Municipal o que o impede levantar para novos voos ou buscar uma beligerância na política estadual. Como bom apreciador do samba, o Prefeito carioca segue a linha do “deixa a vida me levar” e se preserva de aventuras quixotescas na política fluminense.

A cidade do Rio de Janeiro, mais uma vez, não se projeta em condições de se fazer decisiva eleitoralmente nas próximas eleições. As forças progressistas não podem reinventar a história recente da política estadual que elegeu um ex-prefeito de Campos com os votos do Partido dos Trabalhadores há mais de 20 anos atrás. Testemunhou a formação de um novo Núcleo Político de Dirigentes estaduais com base política na Baixada Fluminense e todos coabitaram com as novas lideranças políticas com base no voto evangélico.

As eleições de 2022 no Rio de Janeiro não serão um plebiscito na Praça São Salvador na Zona Sul carioca. Há um eleitor em territórios profundos que nem conhecem as regras eleitorais e se movimentarão nas margens do clientelismo reforçado pelo elevado crescimento da desigualdade social. Ainda nem chamamos a atenção para o mosaico de “Vendeias” reunidas numa confederação de grupos paramilitares que dominam amplos territórios políticos que vão da capital até municípios do interior. Se expandem a medida que a sensação de insegurança pública foi se expandindo. A Região Serrana do Rio de Janeiro recebeu uma “classe média” que fugiu da violência carioca em tempos recentes e não tenhamos a expectativa que rezem pela “cartilha” dos Direitos Humanos.

Se me permitirem uma metáfora boa para qualquer professor de História melhor explicar o provável cenário eleitoral do Rio de Janeiro, eu exporia que teremos menos personagens jacobinos e muitas legiões de cossacos dominando amplas zonas eleitorais. Uma possível fratura na base eleitoral do Governo como ocorreu nas eleições da Capital é praticamente impossível. Então, as forças progressistas não se devem alimentar o discurso da “frente de esquerda” como se essa fosse a Frente Ampla. Além disso, a pauta eleitoral não pode ser um programa de uma classe média das “bolhas”,  mas aquela que pressionem uma saída que gere empregos para a maioria da população.

Gerar emprego e combater a miséria. Essas seriam as palavras dos progressistas para tentar romper esse “corredor sanitário” das forças obscuras da política que circundam a Baixada Fluminense. Portanto, é momento de fazer concessões nas articulações das chapas majoritárias desde que haja compromissos políticos com essas duas linhas programáticas. Na articulação da Frente Democrática no estado do Rio de Janeiro esse passo atrás nos nomes indicados deve exigir mais formação programática dos atores políticos do campo progressista. Entretanto, um bom programa se faz quando assumido pelas forças políticas e não simplesmente com a citação de belos nomes acadêmicos. A mobilização da política não pode ser feita com dúvidas da necessidade de ter um palanque político heterogêneo que permita uma vitória eleitoral convincente. Mais vale estar influindo numa nova gestão estadual no Rio de Janeiro do que amagar uma nova derrota e logo no decisivo ano de 2022. Observemos que é muito importante ganhar e muito melhor governar nos marcos do “compromisso histórico” como ensinou um político italiano dos anos 70/80.

*Mestre em Sociologia. Autor do livro A Sagrada Política. Ed. Albatroz, Rio de Janeiro, 2019.

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