Blog do Noblat / Metrópoles
Ganharam fama no Recife por penetrarem sem
ser convidados nos eventos mais exclusivos. Por fim, a sociedade rendeu-se a
eles
Era uma vez dois irmãos judeus solteiros,
donos de uma loja de ferragem na Rua da Palma, no Recife dos anos 1980, sem
nenhum status na comunidade judaica local. Sem serem convidados, não perdiam um
único evento cultural ou social da cidade.
Ambos portavam grandes barbas mal cuidadas e vestiam-se modestamente. Nos eventos, procuravam comer e beber do melhor e confraternizar com quem lhes dessem a atenção. Eram discretos. Nunca se excediam. Faziam questão de ir embora cedo.
Escolhiam os eventos, apenas um por dia,
com base na leitura dos jornais. Podia ser uma exposição de arte, uma festa em
clube privado ou casamento de gente rica. Tinham especial predileção pelos que
ofereciam maiores dificuldades de ser penetrados.
Durante certo tempo foram mal vistos por
suas proezas. Jamais revelaram como as praticavam. Depois, caíram na admiração
da classe média ao se tornarem um incômodo da classe mais abastada. Até que
acabaram normalizados e aceitos pelo sistema.
Esse dia foi um dos primeiros do governo de
Eduardo Campos (PSB), neto do ex-governador Miguel Arraes. Em meio a um evento
no Palácio do Campo das Princesas, uma assessora de Campos entrou esbaforida e
assustada no gabinete dele:
– Governador, os Irmãos Evento enganaram de
novo os seguranças e conseguiram entrar.
Joel e Abrahão Datz já eram conhecidos pelo
apelido de Irmãos Evento. Um evento sem a presença deles era rebaixado à
condição de algo menos importante. Campos ordenou que os irmãos passassem a ser
convidados para todas as cerimônias do governo.
Abrahão morreu de infarto em 1995. Joel
seguiu carreira solo até a última sexta-feira quando morreu aos 76 anos de
idade. Sua morte foi anunciada e lamentada em nota pela Federação israelita de
Pernambuco, e seu obituário publicado em jornais e sites.
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