Folha de S. Paulo
Ameaçar, ofender e agredir em turma é
fácil, e ainda mais com o chefe sentado no trono
Nesta segunda-feira (27), em Manaus, o ecologista americano Philip M. Fearnside, 74 anos, foi interpelado por um ativista bolsonarista ao denunciar, numa audiência pública, que o licenciamento ambiental para a pavimentação da rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319) viabilizará a grilagem e o desmatamento de uma imensa área intocada da floresta. Segundo o repórter Fabiano Maisonnave, o ativista tumultuou a cena aos gritos de “Como é que pode vir um cara lá dos Estados Unidos dizer o que eu vou fazer na minha casa? Essa casa é nossa! Se a gente quiser derrubar todas as árvores, a gente derruba! É nossa!”.
Philip
Fearnside é Prêmio Nobel da Paz em 2007. Reside na Amazônia há
45 anos. Tem mais tempo de Brasil do que o ativista, aos 41, tem de vida. Isso
lhe dá uma autoridade sobre a região inalcançável pelo estafermo —aliás,
paranaense e cujo currículo se resume a uma candidatura a vereador em 2020 pelo
PRTB, partido do vice-presidente Hamilton Mourão, que lhe rendeu 42 votos.
Segundo Fearnside, secundado por outros estudiosos, o desmatamento daquela área
afetará o fornecimento de vapor d’água e diminuirá as chuvas no Sudeste. O
interpelador não citou nenhum estudo. Seu argumento é a xenofobia.
O dito ativista é um exemplo típico de uma,
literalmente, fauna de valentões que apoiam Jair Bolsonaro —machões, bombados,
atiradores, selvagens da motocicleta e outros espécimes com adesão cada vez
mais explícita ao nazismo. Sua xenofobia não surpreende. Vem juntar-se à fobia
a tudo o que não pertence ao estreito círculo de convicções que querem impor ao
país.
Ameaçar, ofender e agredir em turma é
fácil. Se, hoje, se sentem tão à vontade para trovejar seus músculos e
arrogância nos sindicatos, empresas, grotas sertanejas e redes sociais é porque
seu líder e inspirador está sentado no trono.
Mas eles sabem que são só 15% da população
—e que o tempo de validade do chefe está expirando.
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