Blog Matheus Leitão / Veja
Causa repulsa a grosseria de um machista
dizendo que se encontrar a Deputada Tabata Amaral na rua vai bater nela; causa
indignação perceber militantes que se dizem feministas e democratas não
discordarem desta posição, pelo fato de o autor ser do seu partido; é triste
constatar a semelhança como funciona o gabinete do ódio da direita e o gabinete
do ódio da esquerda: ameaçam e xingam manipulando informações com mentiras,
para criar um clima de medo e ódio.
Mas a repulsa, a indignação e a tristeza são sentimentos individuais, sem consequências políticas. Causa preocupação social e política imaginar que os militantes de esquerda se comportam desta forma por discordarem de votos progressistas, democráticos e responsáveis da Deputada Tabata. As agressões à Deputada mostram comportamento antidemocrático e nostalgia de militantes que em vez de arautos do futuro passam a defender o status quo.
Criticam votos por reformas necessárias para desfazer prática populista, que as forças conservadoras de direita ou de esquerda sempre usaram no Brasil, impedindo o país de avançar e fazendo o povo pagar, com inflação e dívida pública, os privilégios de minorias e os investimentos em projetos quase sempre socialmente excludentes. Dizer que os votos da deputada Tabata são contra educação, repete o combate à abolição da escravidão dizendo que a economia seria prejudicada, ou a luta contra a obrigatoriedade de vacina dizendo que é um instrumento comunista. Nada pior para a educação do que financiar com inflação os gastos públicos que beneficiarão sobretudo às classes privilegiadas, jogando desempregados na miséria e remunerando o empregado, inclusive professor, com o cheque sem fundo da moeda desvalorizada. Obrigando o professor a fazer greves para recuperar perdas de seus salários.
A reação agressiva de “exquerdistas” deve
ter razão psicanalítica:
sabem que assumiram o negacionismo diante
das mudanças no mundo, ficaram sem rumo e sem vigor transformador, caíram na
nostalgia e reagem ao ver as posições progressistas e corajosas da Deputada
Tabata, votando por reformas que o futuro exige, que a eficiência precisa e a
justiça carece.
O ódio à Tabata vem do medo à Tabata.
Ao apontar para o futuro progressista,
responsável e democrático ela desmascara o reacionarismo, a irresponsabilidade,
o populismo, o corporativismo, o machismo e o antidemocratismo dos que a
xingam. Sem espírito democrático, sem propostas transformadoras nem vigor
reformista, prisioneiros do corporativismo e do passado e sem argumentos
convincentes optam pela ameaça para esconder o próprio reacionarismo. A
decadência que se percebe no Brasil, devido décadas de políticas populistas
irresponsáveis e insustentáveis, agravada por um presidente desequilibrado,
indica que Tabata Amaral está mais comprometida com o progresso, do que seus
acusadores reacionários, tanto os de direita quanto os de “exquerda”.
A política continua dividida entre os que
querem construir um mundo melhor e mais belo, com justiça, eficiência e
sustentabilidade, e aqueles que nostalgicamente querem a volta ao passado: a
manutenção do mundo injusto, ineficiente e insustentável. A direita assume sua
nostalgia perversa
Sem dor na consciência, a “exquerda”,
envergonhada pelo obsoletismo de suas ideias e por defender privilégios,
alia-se à direita em sonhos e promessas nostálgicas. Tabata Amaral faz parte de
um grupo de jovens políticos responsáveis, progressistas e democráticos em busca
de futuro melhor e mais belo para o Brasil e o povo; representa o novo e isto
irrita e desperta ódio aos que trocaram a luta pelo futuro, pela defesa do
passado. Assusta aos que fazem política com slogans, no lugar de ideias, e
reagem ameaçando bater nela até a polícia chegar.
Discordo da Deputada Tabata quando ela
manifesta dúvida sobre a conveniência de voto no Lula ainda no primeiro turno,
mas entendo sua preocupação diante de um governo Lula rodeado por esta
“exquerda”. Assusta o risco de trocar um ministro da cultura que usava símbolos
nazistas por outro que ameaça bater em uma deputada, porque discorda dos votos
progressistas que ela tem a lucidez e a coragem de afirmar.
*Cristovam Buarque é
ex-senador, ex-governador e ex-ministro. É também uma das vozes mais lúcidas da
política brasileira
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