Folha de S. Paulo
Os dois principais alvos são o Judiciário e
a Polícia Federal
Enquanto o presidente aluga um partido para
concorrer à reeleição —qualquer saco de gatos serve—, a manopla do bolsonarismo
não para de se mexer por debaixo da mesa, que é sua única maneira de fazer
política. No Judiciário avança o aparelhamento, com a nomeação de 75
desembargadores para os seis Tribunais Regionais Federais e com
a atuação cúmplice de Kassio Nunes Marques, ministro que representa 10% do
chefe dentro do STF, nas palavras não desmentidas do próprio Bolsonaro.
À frente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Bia Kicis apresentou proposta para revogar a PEC da Bengala, que estabelece a aposentadoria compulsória de ministros dos tribunais superiores aos 75 anos. É uma jogada que abertamente favorece Bolsonaro, permitindo a troca imediata de dois ministros do STF, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Pela regra atual, eles só se aposentam em 2023.
Outro alvo é a Polícia Federal, cujos
agentes viraram bedéis da censura no Enem: Chico Buarque, Mafalda e Madonna
estão no index prohibitorum. Apesar do inquérito a que responde desde abril de
2020 —sobre interferência na cúpula da PF para proteger parentes e aliados—,
Bolsonaro continua agindo para moldar a instituição à sua vontade.
Mandou punir ou demitir 18 delegados, que
investigavam do contrabando de madeira na Amazônia a crimes de peculato
envolvendo políticos da base do governo. A mais recente vítima de retaliação
foi a delegada Silvia Amélia
Fonseca de Oliveira, que chefiava a Diretoria de Cooperação Jurídica
Internacional. Ela foi removida da função depois de ter formalizado a
solicitação para que os Estados Unidos prendam e extraditem Allan dos Santos,
acusado de participar de uma organização criminosa e com ordem de prisão
determinada pelo STF.
À semelhança do que ocorre em parte das
Forças Armadas, Bolsonaro quer uma PF para chamar de sua, proibindo-a de
prender os seus.
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