Folha de S. Paulo
Não é um acidente isolado; faz parte de um
projeto de demolição de esperanças
Milhões de jovens brasileiros começam as
provas do Enem neste
fim de semana em busca de uma vaga no ensino superior, sonho que o governo
Bolsonaro tem se esmerado em tornar cada vez mais difícil de alcançar.
São muitos os problemas neste ano: pedido
de exoneração de 37 servidores do Inep (responsável pelo exame), denúncias de
assédio moral e de censura ideológica e a quase confissão de um crime, quando
Bolsonaro disse que a prova começa a ter "a cara do governo".
Tudo isso fomenta desconfianças e cria um ambiente de incertezas para os estudantes, sobretudo aqueles já tão sacrificados pelo aprofundamento de desigualdades em dois anos de pandemia e aulas remotas.
O que acontece com o Enem não é um acidente
isolado. Faz parte de um projeto de demolição de esperanças, claramente
expresso pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro: "Universidade, na
verdade, deveria ser para poucos". Entre esses poucos não está o filho do
porteiro, completaria Paulo Guedes.
Políticas articuladas e complementares,
como o Enem, o Prouni, o Sisu, o Fies e as cotas (sociais e raciais), permitem
uma seleção mais justa para as vagas e dão aos alunos condições para que possam
concluir sua graduação. Isso transformou as universidades, deixou-as mais
parecidas com a cara do Brasil. Não é outro o motivo pelo qual o bolsonarismo
trata de dilapidar esse conjunto de iniciativas e, junto com ele, as aspirações
de tantos rapazes e moças que têm na formação superior uma chance de ascensão
social.
O crime contra a educação extrapola o Enem.
Reportagem de Thais Carrança, na BBC Brasil, mostra uma realidade dilacerante
em escolas do ensino básico de bairros pobres. Segundo os professores, cada vez
mais crianças estão desmaiando de fome na sala de aula. Por tudo isso, ou
apesar de tudo isso, deixo um pedido aos jovens que farão o Enem: não desistam
dos seus sonhos, não desistam de vocês, não desistam de nós. Este tempo ruim
vai passar. Boas
provas e boa sorte!
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