Folha de S. Paulo
Livro mostra como conceitos abstratos do tipo
utilidade marginal decrescente produzem efeitos concretos na história
Breve e certeiro são dois adjetivos que
descrevem bem "How Economics Explains the World" (Como a Economia Explica
o Mundo), de Andrew Leigh. Em menos de 200 páginas, ele narra como forças
econômicas moldaram a história.
Leigh começa com a agricultura,
que criou a possibilidade de acumular riqueza e permitiu a especialização do
trabalho, e termina na pandemia, cujo
impacto inflacionário, agravado pela invasão da
Ucrânia, até hoje afeta o resultado de eleições mundo afora.
Uma coisa que Leigh faz muito bem é mostrar como conceitos econômicos que podem parecer abstratos, como estrutura de incentivos, custos de oportunidade, utilidade marginal decrescente, geram efeitos concretos.
Um exemplo: foram restaurantes europeus e não
americanos que primeiro desenvolveram sistemas eletrônicos de registrar
pedidos. Fizeram-no décadas antes do iFood. E por causa dos incentivos.
Contratar um funcionário na Europa é
muito mais caro que nos EUA.
Outro resultado inesperado da estrutura de
incentivos é que, quando os EUA mudaram os impostos
sobre a herança, moribundos responderam, morrendo um pouco mais tarde a fim
de extrair maiores benefícios fiscais.
Apesar do espaço apertado, Leigh traz até
discussões filosóficas para o livro. Dinheiro
traz felicidade? As primeiras pesquisas sugeriram que sim, mas só até
certo ponto. Análises mais recentes mostram que a felicidade sempre aumenta,
tanto entre nações como dentro de cada país. Ainda assim, o autor, com base no
princípio da utilidade marginal, recomenda a adoção de um imposto fortemente
progressivo. É que um dólar adicional traz mais felicidade para quem não tem
quase nenhum do que para quem já
Apesar da brevidade, e, portanto, da
densidade do livro, Leigh ainda encontra espaço para contar boas historietas,
como a de que o
jogo Banco Imobiliário (Monopoly) foi inspirado nos barões ladrões,
como era chamada a elite empresarial dos EUA no final do século 19. E o jogo
era uma crítica, não uma bajulação, a eles.
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