Folha de S. Paulo
Ministra quer se posicionar como articuladora
direta entre Lula e a cúpula do Congresso
A ministra da Secretaria de Relações
Institucionais, Gleisi
Hoffmann (PT), pretende concentrar as negociações do governo Lula com o
Congresso, antes divididas com outros ministros, e se posicionar como uma
articuladora direta entre o presidente da República e as cúpulas da Câmara e
do Senado,
dominadas pelo centrão.
Aliados de Gleisi falam em uma mudança no modelo de articulação política. Depois de um período em que líderes encaravam a relação com o governo com pouca confiança, esses aliados dizem que a ministra pode fazer negociações com maior respaldo de Lula, priorizando as lideranças partidárias e participando ativamente de cada etapa das negociações.
A primeira semana da ministra no cargo foi
ofuscada por declaração na qual Lula disse ter colocado uma "mulher
bonita" para aproximar o governo do Congresso.
A relação do governo com o Legislativo nos
dois primeiros anos de mandato foi
marcada por atritos, diante de uma base parlamentar instável. Além disso, o
então presidente da Câmara
Arthur Lira (PP-AL) rompeu com Alexandre Padilha, que estava no comando da
pasta. Com isso, outros ministros passaram a atuar na linha de frente das
negociações com o Congresso, como Fernando
Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa
Civil).
Uma das principais queixas dos parlamentares
nesses dois anos é o que eles classificam como o descumprimento de acordos por
parte do governo federal.
Deputados e senadores afirmam que, mais de
uma vez, foram firmados compromissos com um ministro sem aval ou conhecimento
de todos os integrantes do Palácio do Planalto. Dessa forma, os acertos não
foram levados adiante. A ideia, agora, é que Gleisi coordene esses processos
para evitar ruídos.
Além disso, a ministra pretende valorizar a
figura dos líderes partidários, organizando encontros frequentes com os
parlamentares. Na terça-feira (11), por exemplo, ela almoçou
com líderes de partidos de esquerda no Palácio do Planalto e promoveu
um jantar com integrantes do centrão em seu apartamento, em Brasília.
O líder do governo na Câmara, José
Guimarães (PT-CE), disse que esses encontros serviriam para
"afinar a viola" e estabelecer procedimentos. "Gleisi foi
taxativa: toda a relação será com líderes e presidentes das Casas. Nada no
varejo. É fortalecer os líderes e o colégio de líderes", afirmou.
Ela também se reuniu com os presidentes da
Câmara, Hugo
Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP). Em seu discurso de posse, na
segunda-feira (10), Gleisi acenou aos dois e afirmou que chegou "para
somar". Ela também falou em "respeitar adversários" e em
"colaborar com todos".
"Foi essa a missão que recebi e pretendo
cumprir, num governo de ampla coalizão, dialogando com as forças políticas do
Congresso e com as expressões da sociedade, suas organizações e
movimentos", disse.
Apesar de a nomeação da ministra ter
gerado desconfiança
no meio político pela trajetória da petista, que tem histórico de atritos
com parlamentares, líderes ouvidos pela reportagem elogiaram os primeiros dias
de Gleisi no cargo.
Outro ponto questionado por aliados do
governo era o tom mais à esquerda que a hoje ministra adotava em seus
discursos, com críticas, por exemplo, ao modelo de contenção de gastos adotado
na gestão de Haddad na Fazenda.
A ministra é descrita como uma pessoa dura,
mas cumpridora de acordos. A avaliação desses aliados é que ela manterá uma
relação mais franca com deputados e senadores —indicando quando será possível
ou não levar adiante algum pedido, sem rodeios. A própria Gleisi diz a
interlocutores que só fecha compromissos que sabe que terá condições de
cumprir.
Além disso, um interlocutor da ministra diz
que ela tem consciência de que não pode errar à frente do cargo, num momento
em que o governo está com baixa popularidade a caminho das eleições de
2026.
Um aliado do presidente da Câmara diz que
Gleisi demonstrou ter respaldo de Lula, o que poderá dar fluidez às
negociações, além de ter indicado querer resolver pendências do Executivo com o
Legislativo —como nomeações que não foram adiante e o pagamento de emendas
parlamentares.
A nova ministra mantém boa relação com o
entorno de Motta. No ano passado, ela foi uma das primeiras figuras importantes
do PT a defender, dentro do partido, o apoio à candidatura do deputado à
sucessão de Arthur Lira (PP-AL).
A cúpula
da Câmara tentou emplacar o líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), para o
cargo de ministro da Secretaria de Relações Institucionais. Ainda assim, um
líder de partido do centro diz esperar que a chegada de Gleisi também diminua a
distância entre os parlamentares e o presidente da República, servindo de ponte
direta entre Lula e as lideranças.
Senadores e deputados cobram uma participação
maior de Lula na articulação política, lembrando os encontros com parlamentares
que ele organizava no primeiro e no segundo mandato que e não têm ocorrido no
atual.
O presidente indicou que quer se aproximar de
Motta e Alcolumbre, reduzindo a distância entre eles, falando isso publicamente
durante a semana.
"Não quero que alguém ache que o
presidente está distante do presidente da Câmara, está distante do presidente
do Senado. Temos que mostrar para a sociedade que nós somos, em lugares
diferentes, pessoas com o mesmo compromisso de defender a soberania do país, o
bem-estar do brasileiro", disse Lula.
Há uma avaliação entre integrantes do governo
de que a troca no comando das duas Casas "zerou o jogo" na relação
com o Congresso. Na
última semana, em mais um gesto dessa aproximação, o petista almoçou com os
dois presidentes. Ele já tinha se reunido com Alcolumbre e Motta em outra
ocasião, na Granja do Torto, em fevereiro.
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