O Globo
Às vésperas de virar réu, Jair Bolsonaro
tenta mostrar que ainda está vivo. O capitão convocou a tropa para um comício
fora de época. Quer exibir força para a classe política e para os ministros que
vão julgá-lo no Supremo Tribunal Federal.
O ex-presidente está inelegível, mas insiste
em repetir que será candidato ao Planalto. A estratégia cumpre dois objetivos:
manter sua ascendência no campo da direita e impor condições a quem buscar seu
apoio.
Em 2018, Bolsonaro martelava que Fernando Haddad era candidato com a missão de tirar Lula da cadeia. Em 2026, só pedirá votos a quem prometer recompensá-lo com um indulto.
O discurso pela anistia para os fanáticos do
8 de Janeiro é conversa fiada. O capitão nunca ligou para os seguidores que
cantavam o hino para pneu e tomavam chuva na porta dos quartéis. A única
bandeira capaz de mobilizá-lo é a própria impunidade. Como o Supremo não parece
disposto a salvá-lo, resta apostar na caneta do próximo presidente.
Bolsonaro sabe que a elite econômica já tem
outro favorito para enfrentar Lula. Por isso se esforça para mantê-lo no
cabresto. “Nós dois seremos candidatos. Ele vai para reeleição e eu para
presidente”, declarou na terça-feira, em entrevista ao lado de Tarcísio de
Freitas.
O governador de São Paulo se empenha para não
contrariar o padrinho. Depois de hospedá-lo mais uma vez no Palácio dos
Bandeirantes, deve dar outra prova de obediência neste domingo, ao subir no
palanque montado na Praia de Copacabana.
No início da semana, Bolsonaro anunciou que
reuniria um milhão de apoiadores na Avenida Atlântica. Dois dias depois,
reduziu a expectativa pela metade e disse esperar “pelo menos 500 mil pessoas”.
Ainda que o público de verde e amarelo não chegue nem perto disso, o
ex-presidente tem grandes chances de conseguir a foto que deseja.
“Chega de órfãos de pais vivos no Brasil”,
bradou, em vídeo para divulgar a manifestação em causa própria. Deve ter
pensado no Zero Um, no Zero Dois e no Zero Três.
O intocável
A prometida reforma ministerial não deve
mexer no principal foco de queixas na equipe de Lula: a Casa Civil. O petista
Rui Costa ostenta o título de figura mais impopular do governo. É acusado de
travar projetos, sabotar colegas e semear intrigar no entorno do presidente.
Em solenidade na quarta-feira, Lula falou
sobre a rixa pública que opõe o ex-governador da Bahia ao ministro da Fazenda,
Fernando Haddad. “Quando tiver briga entre os dois, eu sou o separador”,
gracejou.
Haddad pode ser o alvo mais famoso, mas não é
o único a reclamar das botinadas de Rui. Nas rodas de Brasília, outro ministro
influente costuma chamar seu gabinete de “Casa Covil”..
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