O Globo
Na quarta-feira, Lula anunciou
uma iniciativa para expandir o crédito dos trabalhadores e explicou: “Não há
nada mais milagroso para uma economia do que o dinheiro circular na mão de
todos. Quando o dinheiro se concentra na mão de poucos, a gente sabe o
resultado da História do Brasil, de muitos países e da humanidade”.
Faltou-lhe a sorte. No mesmo dia, o IBGE
informou que a inflação acumulada
nos últimos 12 meses estava em 5,06%, superando o teto da meta do Banco
Central de 4,5%. Mais dinheiro na mão de todos faz milagres. Contudo,
se o dinheiro vale menos, o milagreiro se torna charlatão.
Desde que a carestia foi associada à erosão da confiança no governo, os companheiros correm atrás de más notícias pontuais. Ora é o ovo, ora é o café. Para o que seriam problemas pontuais, respondem com soluções políticas pontuais. Itaipu socorre as tarifas de energia, ou retira-se o imposto de importação para aliviar o preço do ovo.
No final do século passado, o dragão da
carestia assombrou quatro presidentes: Ernesto Geisel, João Figueiredo, José Sarney e Fernando
Collor. Todos tentaram conter a inflação valendo-se de medidas econômicas
empacotadas em iniciativas políticas. Todos fracassaram, até que no governo
de Itamar
Franco, com Fernando
Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda, veio o Plano Real e
foi restabelecido o valor da moeda.
Saído da cabeça de um grupo de economistas, o
Plano Real era engenhoso, mas só deu certo porque, finalmente, Itamar Franco e,
sobretudo, Fernando Henrique, subordinaram as ações pontuais ao objetivo
central da recuperação do valor da moeda. Se isso tivesse sido feito nos
governos anteriores, o Brasil não teria chegado a uma inflação de 1.621% em
1990. Naquele tempo, o instituto da correção monetária mascarava a carestia.
Hoje, a inflação entra direto no orçamento das famílias.
Apesar disso, Lula acredita em bodes
expiatórios. Até o ano passado, ele se chamava Roberto Campos Neto. Como ele
deixou o Banco Central, teria deixado uma “arapuca”. Já, já, o bode da vez
serão as tarifas de Donald Trump.
Aos bodes, contrapõe-se o milagreiro. Ele aciona o companheiro de Itaipu e
baixa a tarifa de energia naquele mês.
Lula 3.0 está diante de um surto
inflacionário incipiente, porém cruel, e acredita nas virtudes de uma retórica
que, há 50 anos, levou-o de um torno mecânico ao Palácio do Planalto. No
governo, ele não percebeu que a situação inverteu-se. Ele agora está na cadeira
dos presidentes que acreditavam em medidas pontuais e em pacotes que misturavam
objetivos políticos com medidas econômicas.
Fernando Henrique e Itamar Franco perceberam
a sutileza do problema. A carestia/inflação era o principal problema da
política brasileira e deveria ser enfrentado com iniciativas globais na
economia.
Lula e Luiz XV
Com sua piada sobre os atributos de Gleisi
Hoffmann, Lula aproxima-se perigosamente do diagnóstico do historiador francês
Claude Manceron a respeito de Luís XV, rei da França de 1715 a 1774.
Ao fim do seu reinado, aos 64 anos, ele
estava fora de moda.
Boa notícia
O número de jovens que decidem estudar
Engenharia encolheu de 469 mil em 2014 para 358 mil em 2023. Esse número mostra
um país que anda para trás, mas as coisas boas também acontecem.
A repórter Renata Cafardo informa que entre
2017 e 2023 os matriculados em cursos de Medicina Veterinária passaram de 314
para 3,5 mil. Em 2017, os estudantes de Gestão de Agronegócio eram 200 e em
2023 chegaram a 7,3 mil. Mais: 45 mil jovens estudam Agronomia. Esses são
números que mostram um país que vai em frente.
Nos Estados Unidos do século XIX, industriais
criaram joias como institutos de tecnologia de Massachusetts e da Califórnia.
No Brasil, nada. Os institutos de Tecnologia da Aeronáutica e o Militar da
Engenharia saíram da Bolsa da Viúva.
Há gente batalhando para que os poderes do
agronegócio criem um instituto de tecnologia de alimentos semelhante aos que
surgiram nos Estados Unidos e na China. Tomara que a coisa ande.
Megalomania
O Planalto incluiu no seu projeto de
Orçamento uma rubrica que destina R$ 760 milhões ao Movimento dos Sem Terra
para iniciativas de capacitação.
Será difícil votar o Orçamento enquanto essa
rubrica estiver lá.
O Judiciário funcionou
Com magistrados seguindo ministros do STF para
lustrar farofas e com a disseminação de penduricalhos que se estendem a setores
do Ministério Público, o Judiciário vem apanhando como boi ladrão. Mesmo assim,
coisas boas acontecem.
O Conselho Nacional de Justiça barrou um
edital do Tribunal do Maranhão que pretendia comprar 66 iPhones para seus
doutores.
(Depois que o major Rafael Oliveira comprou
um iPhone com o capilé dos golpistas, alguém poderia criar um aplicativo que
informasse: “Mensagem mandada pelo meu iPhone, comprado com meu dinheiro”).
Mais: o Superior Tribunal de Justiça condenou
a penas que vão até 20 anos de prisão em regime inicial fechado, três
desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho do Rio. Os doutores vendiam
sentenças e foram apanhados pela Polícia Federal.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota. Mora nos fundos de uma
pensão e nunca entendeu direito como funcionam os fundos de pensão das estatais
de Pindorama.
O cretino sabe que déficit não é rombo, como
tangerina não é laranja. Ele não entende o desconforto de diretores da Previ,
diante da auditoria do Tribunal de Contas da União para estudar o déficit de R$
14 bilhões registrado pelo chamado Plano 1 do fundo.
Pelas contas do cretino, a Previ concentrou
35% dos seus investimentos em aplicações de renda variável em ações da Vale.
Como o preço do minério despencou, com ele caíram as ações da empresa.
Eremildo acha que se a Previ mostrar aos
auditores do TCU outro fundo do seu porte que aplicou 35% de seus investimentos
numa só empresa que depende da cotação de uma só mercadoria, a fiscalização
perde seu sentido.
Cadê a Autoridade Climática?
Na semana passada completaram-se seis meses
do dia em que Lula prometeu, em Manaus, criar a Autoridade Climática. Faltam
oito para a reunião da COP-30, em Belém.
Até hoje não foi escolhido o coordenador das
negociações com empresas. Até aí, coisa de governo travado.
Para piorar, a COP-30 arrisca ser
transformada num palanque do trumpismo e de uma charanga de países seus
aliados.
Ao final da reunião, os Estados Unidos formalizarão sua saída do Acordo de Paris. Num cenário de pesadelo, pode-se imaginar Donald Trump, ou mesmo o secretário de Estado, Marco Rubio, descendo em Belém para açoitar a COP.
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