Por Renan Truffi e Sofia Aguiar / Valor Econômico
Medidas já estão com presidente, diz Haddad,
mas orientação ainda é buscar saída negociada
— De Brasília - O ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, apresentou nessa segunda-feira (28) ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva um plano de contingência para socorrer as empresas que vierem a
ser afetadas pelo tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump. Apesar disso, segundo o ministro, a ordem no governo continua sendo a
mesma: tentar costurar um acordo com as autoridades americanas para evitar que
os produtos brasileiros sejam taxados em 50% a partir de 1º de agosto,
sexta-feira.
Haddad falou à imprensa após se reunir com Lula e outros ministros no Palácio do Planalto. “Os cenários possíveis já são de conhecimento do presidente Lula, nos debruçamos sobre isso agora. O importante é que o presidente tem na mão os cenários todos que foram definidos pelos quatro ministérios”, disse, ao se referir aos ministérios da Fazenda, Mdic, Casa Civil e Itamaraty, diretamente envolvidos na formulação das medidas.
De acordo com Haddad, porém, Lula ainda não
bateu o martelo sobre o plano porque o governo continuará buscando uma saída
diplomática para a contenda comercial. “O foco continua sendo as negociações. O
vice-presidente [Geraldo] Alckmin está em contato permanente e à disposição
permanentemente das autoridades americanas. Então, aquilo que foi dito semana
passada, que o Brasil não vai deixar a mesa de negociação em nenhum momento,
está valendo e vai continuar valendo”, explicou o ministro.
“Por determinação do presidente, [o foco] é
negociar, tentar evitar medidas unilaterais, mas, independentemente da decisão
que o governo dos Estados Unidos vai tomar, nós vamos continuar abertos na
negociação”, complementou.
Mais uma vez, o ministro não quis antecipar
pontos do plano de contingência. Na semana passada, Haddad sinalizou que o
plano inclui uma linha de crédito para empresas. A estimativa do governo é que
mais de 10 mil empresas sejam afetadas pelo tarifaço. Também estão em estudo
medidas para a proteção de empregos.
“Foi distribuído o material para os
ministros, o material é relativamente alentado. Os ministros vão se debruçar
sobre ele, possivelmente o presidente chame ainda [para mais reuniões], mas o
foco é receber da parte dos Estados Unidos uma resposta às cartas [que o Brasil
enviou propondo negociação]”, frisou Haddad.
À frente do comitê interministerial que trata
do “tarifaço”, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio, Geraldo Alckmin, adotou discurso semelhante e disse que “todo o
empenho” do Executivo está em tentar “resolver o problema” da sobretaxa de 50%.
“O plano de contingência está sendo
elaborado, bastante completo, bem feito, mas todo empenho nesta semana é para
buscar resolver o problema. Estamos dialogando neste momento pelos canais
institucionais. Este diálogo começou em março, tive uma videoconferência longa
com o secretário de Comércio. Em maio, nos foi solicitado uma carta
confidencial com inúmeros pontos levantados [pelo governo brasileiro], mas não
tivemos resposta”, disse Alckmin em entrevista coletiva.
Todo empenho nesta semana é para buscar
resolver o problema”
— Geraldo Alckmin
Em outra frente, o governo brasileiro também
voltou a enviar recados a autoridades americanas como forma de mostrar
disposição em dialogar. Os acenos foram feitos tanto pela Embaixada do Brasil
em Washington quanto pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que
está em Nova York até esta terça-feira (29).
A viagem do chanceler aos Estados Unidos se
deu por conta de outro motivo, a participação dele uma conferência realizada
pela Organização das Nações Unidas (ONU) que está discutindo uma solução de
dois Estados no conflito Israel-Hamas. Apesar disso, o próprio ministro e
interlocutores dele aproveitaram a presença no território americano para fazer
acenos à diplomacia americana sobre a intenção do Brasil em resolver a questão
comercial pelo diálogo.
De acordo com interlocutores, Vieira teria
sinalizado, inclusive, que está disposto a ir a Washington, caso ele possa
conversar com integrantes da gestão de Donald Trump sobre o assunto. Até o
momento, entretanto, o esforço feito pelo lado brasileiro não obteve resposta
positiva.
Antes, durante solenidade no Planalto para a
sanção de um programa para estimular as exportações, Haddad também afirmou que
o Brasil não pode “se deter” diante de qualquer tipo de ameaça interna ou
externa. Na visão do titular da Fazenda, é preciso “trabalhar junto” para se
“construir uma saída” que permita o país continuar a crescer.
“Nós não podemos nos deter diante de qualquer
tipo de ameaça, interna ou externa. Temos que trabalhar juntos, construir junto
as saídas necessárias para o Brasil continuar crescendo”, discursou Haddad, em
evento de sanção e regulamentação do Programa Acredita Exportação.
O ministro da Fazenda também afirmou que o
Brasil “pode e vai” crescer a uma média de 3% ao ano. “Já fizemos o próprio FMI
[Fundo Monetário Internacional] reconsiderar o nosso PIB potencial”, citou. O
Fundo estima que o crescimento do Brasil neste ano será de 2,3%. Na visão do
ministro, no entanto, o número ainda é “pouco para o potencial da economia
brasileira”.
As projeções do mercado convergem com a estimativa do FMI. Segundo o boletim Focus divulgado nessa segunda-feira pelo Banco Central, a mediana das projeções dos economistas para o crescimento da economia brasileira neste ano ficou estável em 2,23%. Para 2026, ela oscilou de 1,88% para 1,89%.
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