Folha de S. Paulo
A bandalha é geral: placas falsas, ausência
de habilitação, recordes de mortes e acidentes
É um problema (mais um) que desafia o país.
Visível, barulhento, inescapável, muitas vezes mortal. São as motos. Um dia
vistas como símbolo de liberdade e contestação —como no filme "O
Selvagem", de 1953, estrelando Marlon Brando com jaqueta de couro e pose
de jovem rebelde—, hoje elas são a face cruel da exploração do trabalho nas
grandes cidades.
A bagunça é geral. Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito, 50,4% dos donos de motocicletas não têm habilitação. Outro dado alarmante: a cada oito minutos, a Prefeitura de São Paulo registra uma moto com placa falsa.
De 2015 a 2024, a frota de motos aumentou
42%. Há mais de 35 milhões delas circulando no Brasil. Os acidentes com
motociclistas se tornaram a principal causa de mortes no trânsito. Só na cidade de São
Paulo, na última década, o número de mortes subiu de 32% para 47%. No Rio,
a Secretaria Municipal de Saúde prestou 19 mil atendimentos a vítimas com motos
em 2024, alta de 32% em relação ao ano anterior. São acidentes que, quando não
matam, causam lesões graves, demandam cuidados intensivos e longo tempo de
internação e reabilitação.
Entre os jovens, grande parcela da população
usa a moto para trabalhar. São entregadores de aplicativo. Quem chega mais
rápido ao destino ganha mais. Pressionados, eles avançam pelo corredor entre as
faixas, desrespeitam sinais e cruzamentos, trafegam na contramão, fecham
carros, invadem calçadas.
E se envolvem em discussões e brigas. Há de
ter cuidado, pois nem todo mundo é o pastor Silas Malafaia. No documentário "Apocalipse nos Trópicos", ele aparece
despejando seu ódio sobre um motoqueiro e depois avisa que seus seguranças vão
dar um "susto" no rapaz.
Eduardo
Paes, prefeito do Rio e candidato a governador, chegou a anunciar em junho
um plano de fiscalização e segurança viária em que motos não poderiam circular
a mais de 60 km/h. "Instalar radar e estabelecer limite de velocidade é
política de segurança, não de multas", disse ele. Doze dias depois, Paes
resolveu adiar a medida.
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