Folha de S. Paulo
'Sonho' de ex-presidente
virou pesadelo, e prisão é questão de tempo
Em abril de 2015, Jair
Bolsonaro se desfiliou do Partido Progressista
(PP) com o "sonho" de se candidatar à Presidência. Dez anos
depois, o movimento político que o levou ao poder vive sua pior crise.
A crise possui três frentes.
A primeira é institucional. Além de estar inelegível, Bolsonaro aguarda o
resultado do julgamento por tentativa de golpe com uma tornozeleira
eletrônica. Sua prisão é questão de tempo.
Carla Zambelli, uma de suas apoiadoras mais fiéis, foi abandonada à própria sorte. Presa pela Justiça italiana, aguarda a decisão sobre sua extradição para o Brasil. Caso regresse, deve enfrentar uma pena de dez anos por crimes relacionados à invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça.
Eduardo
Bolsonaro, ao tentar salvar o pai, apenas agravou a situação. Caso retorne
ao Brasil, deve ser condenado por crimes como obstrução de investigação de
organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado democrático de
Direito, entre outros.
Nikolas
Ferreira enfrenta um processo judicial que pode torná-lo ilegível. De
acordo com denúncia do Ministério Público, o deputado encabeçou, ao lado de
Bruno Engler (PL),
uma campanha coordenada de desinformação contra o então prefeito e candidato à
reeleição em Belo Horizonte, Fuad Jorge Noman Filho, que faleceu pouco tempo
depois das eleições.
Ricardo Salles, um dos cinco
deputados federais mais votados em 2022, ao lado de Nikolas, Zambelli e Eduardo
Bolsonaro, abandonou o PL e foi para o Partido Novo. No entanto, o processo por
contrabando de madeira, no qual é réu, foi reaberto e agora tramita no STF sob
relatoria de Alexandre
de Moraes.
As redes sociais, outra
frente em que o bolsonarismo parecia imbatível, não estão rendendo como antes.
Narrativas como a "anistia" para Bolsonaro perderam poder de
mobilização. E agora o acúmulo de derrotas fragilizou o poder midiático do
bolsonarismo.
Incapazes de se posicionar a
favor de pautas populares como a defesa da escala 6x1 e a taxação dos super-ricos,
a última aposta dos bolsonaristas para tentar animar as bases fracassou de modo
retumbante. Segundo pesquisa da Quaest, a aplicação da Lei
Magnitsky contra o ministro Alexandre
de Moraes (STF) foi criticada em 60% das menções nas redes e aprovada
apenas em 28%.
A crise também ocorre nas
ruas. O número de bolsonaristas dispostos a ir às ruas vem oscilando para baixo
desde o início do ano.
De acordo com estimativas do
Monitor do Debate Político no Meio Digital do Cebrap, no dia 25 de fevereiro de
2024, o ato
encabeçado por Jair Bolsonaro na avenida Paulista teve um pico de 185
mil pessoas. No dia 6 de abril, no mesmo local, o evento "Anistia Já"
reuniu 44 mil pessoas. Meses depois, no dia 29 de junho, compareceram ao último
ato apenas 12 mil pessoas.
Em 10 de julho, lideranças
de esquerda conseguiram reunir um número maior na avenida Paulista, 15 mil
pessoas. Foi a primeira vez que a direita perdeu da esquerda nas ruas desde
2015.
Mas é justamente nas ruas
que os bolsonaristas procuram reverter a crise. Neste domingo (3), a estimativa
foi de 37,6 mil na Paulista. Encher novamente praças e avenidas brasileiras
pode demonstrar que suas bases estão abatidas, mas não mortas.
Resta saber se será
suficiente para impactar as eleições de 2026 e impedir que o "sonho"
de Bolsonaro vire um pesadelo para todos aqueles que o apoiam.
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