O Globo
Provavelmente, a população atribui seu
emprego e sua renda não ao governo, mas ao esforço pessoal
A pergunta, feita comumente pelos institutos
de pesquisa, parece simples: o país está caminhando na direção certa ou errada?
Na primeira impressão, a questão refere-se ao governo central, responsável por
levar a nação para este ou aquele lado. Então, sim, há nas respostas uma
avaliação do governo federal. A última pesquisa Genial/Quaest, de setembro,
trouxe má notícia para o governo Lula. Para 58% dos entrevistados, o país
caminha na direção errada — resultado estável em relação à pesquisa do mês
anterior. Para 36%, estamos na direção certa.
Isso combina com outra avaliação: 51% dos brasileiros desaprovam o governo Lula, ante 46% que aprovam. Tem lógica: se o governo vai mal, o país não pode ir bem. Mas não é apenas isso. O cidadão mora no seu município, não na Federação, de modo que o ambiente percebido em seu entorno deve influenciar na avaliação geral. Considerando que as pessoas não distinguem bem as atribuições de cada nível de administração, a culpa tende a ser atribuída ao “governo em geral”.
Sobra também para os políticos, que exercem
parcela do poder. E que costumam aparecer mal nas avaliações específicas. Ao
dizer, portanto, que o país vai na direção errada, o cidadão expressa um
sentimento geral, um mal-estar com o rumo das coisas.
Inflação incomoda bastante. É verdade que, na
análise econômica, a inflação brasileira está em queda. Os números não deixam
dúvida. Mas há uma diferença entre a inflação efetivamente medida e a
percepção. Inflação menor quer dizer que os preços, na média, subiram menos que
no mês anterior. A percepção de quem vai ao supermercado muda pouco: os preços
continuam em alta. Ou, o que dá na mesma, não caíram.
Claro que uma inflação de alimentos elevada e
constante irrita a população e derruba a avaliação do governo federal.
Aconteceu isso com a gestão Lula no primeiro semestre. Depois, a inflação
arrefeceu — alguns preços tiveram mesmo queda. Significa que o país entrou no
caminho certo? Parece que não. Depois de um ambiente prolongado de inflação
pressionada, as pessoas guardam uma espécie de “memória inflacionária” — um
sentimento geral de que as coisas continuam caras. E de que a culpa é do
governo. São necessários meses e meses de estabilidade para apagar essa
memória.
Muitos governantes se enganam com isso.
Observam uma queda no índice de inflação e deduzem daí que a situação está
resolvida, e a população perceberá. Nos Estados Unidos, Biden e os democratas
caíram nesse erro. Afinal, haviam derrubado a inflação para um nível de 2% ao
ano, depois de bater em quase 10%. Mas Trump fez campanha o tempo todo falando
de uma inflação ameaçadora. Deu certo. Os preços altos ainda estavam na memória
dos americanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário