quarta-feira, 1 de outubro de 2025

O enigma do PIB. Por Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Quem pode dizer com algum grau de certeza, hoje, se a maior economia do mundo está fraca ou forte?

Não são apenas os dirigentes dos principais bancos centrais do mundo que estão inseguros em determinar em que ponto está, de fato, o nível da atividade econômica em seus países – algo crucial para calibrar a política monetária. Analistas e investidores também parecem estar no escuro, uma vez que os dados ora apontam para resiliência inesperada no consumo e investimento, ora mostram perda de fôlego do mercado de trabalho.

Tome-se o exemplo dos Estados Unidos. Quem pode dizer com algum grau de certeza, na fotografia de hoje, se a maior economia do mundo está fraca ou forte, diante de números recentes de atividade aparentemente conflitantes?

Na semana passada, foi divulgado o resultado final do PIB americano do segundo trimestre deste ano, com crescimento anualizado de 3,8%. Esse número foi revisado duas vezes: a estimativa inicial apontou alta de 3%. E na segunda estimativa, a expansão foi elevada para 3,3%. O que mais impressionou os analistas no resultado final foi que a maior contribuição para o avanço mais forte do PIB não foi em razão de fatores voláteis, como o comércio internacional. A melhora veio da revisão para cima do consumo e investimento.

É o consumo privado nos EUA que está surpreendendo e levando analistas a revisar para cima as projeções do PIB. Os gastos dos consumidores em agosto subiram 0,6% ante julho, acima do previsto. Não à toa, o monitor do desempenho em tempo real do PIB, elaborado pelo Federal Reserve (Fed) de Atlanta, estima em 3,9% a alta anualizada neste terceiro trimestre.

Por outro lado, a criação de vagas de trabalho nos EUA vem desacelerando. Em agosto, foram apenas 22 mil. O número de setembro será divulgado na sexta-feira. A projeção aponta para criação de 50 mil postos de trabalho, o que é considerado modesto. O mercado estima ainda que a taxa de desemprego ficará estável em 4,3%.

Diante da resiliência do consumo, de um lado, e da perda de fôlego do mercado de trabalho, de outro, muitos analistas questionam se há uma nova tendência em curso: de expansão da atividade mesmo com o enfraquecimento do emprego. E se esse cenário poderá ser o novo normal com o impacto da inteligência artificial na economia.

Parece que a tarefa de medir, com precisão, o termômetro da atividade ficou mais difícil. Já no Brasil, a desaceleração do PIB tem sido mais lenta do que o esperado. Há discordância entre o Banco Central e o mercado sobre o grau de ociosidade. Assim, o desafio do Fed e do BC é decidir o quanto de estímulo – corte de juros – a economia realmente precisa.

 

Nenhum comentário: