O Estado de S. Paulo
Quem pode dizer com algum grau de certeza, hoje, se a maior economia do mundo está fraca ou forte?
Não são apenas os dirigentes dos principais
bancos centrais do mundo que estão inseguros em determinar em que ponto está,
de fato, o nível da atividade econômica em seus países – algo crucial para
calibrar a política monetária. Analistas e investidores também parecem estar no
escuro, uma vez que os dados ora apontam para resiliência inesperada no consumo
e investimento, ora mostram perda de fôlego do mercado de trabalho.
Tome-se o exemplo dos Estados Unidos. Quem pode dizer com algum grau de certeza, na fotografia de hoje, se a maior economia do mundo está fraca ou forte, diante de números recentes de atividade aparentemente conflitantes?
Na semana passada, foi divulgado o resultado
final do PIB americano do segundo trimestre deste ano, com crescimento
anualizado de 3,8%. Esse número foi revisado duas vezes: a estimativa inicial
apontou alta de 3%. E na segunda estimativa, a expansão foi elevada para 3,3%.
O que mais impressionou os analistas no resultado final foi que a maior
contribuição para o avanço mais forte do PIB não foi em razão de fatores
voláteis, como o comércio internacional. A melhora veio da revisão para cima do
consumo e investimento.
É o consumo privado nos EUA que está
surpreendendo e levando analistas a revisar para cima as projeções do PIB. Os
gastos dos consumidores em agosto subiram 0,6% ante julho, acima do previsto.
Não à toa, o monitor do desempenho em tempo real do PIB, elaborado pelo Federal
Reserve (Fed) de Atlanta, estima em 3,9% a alta anualizada neste terceiro
trimestre.
Por outro lado, a criação de vagas de
trabalho nos EUA vem desacelerando. Em agosto, foram apenas 22 mil. O número de
setembro será divulgado na sexta-feira. A projeção aponta para criação de 50
mil postos de trabalho, o que é considerado modesto. O mercado estima ainda que
a taxa de desemprego ficará estável em 4,3%.
Diante da resiliência do consumo, de um lado,
e da perda de fôlego do mercado de trabalho, de outro, muitos analistas
questionam se há uma nova tendência em curso: de expansão da atividade mesmo
com o enfraquecimento do emprego. E se esse cenário poderá ser o novo normal
com o impacto da inteligência artificial na economia.
Parece que a tarefa de medir, com precisão, o
termômetro da atividade ficou mais difícil. Já no Brasil, a desaceleração do
PIB tem sido mais lenta do que o esperado. Há discordância entre o Banco
Central e o mercado sobre o grau de ociosidade. Assim, o desafio do Fed e do BC
é decidir o quanto de estímulo – corte de juros – a economia realmente precisa.
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