Folha de S. Paulo
Novo presidente do Supremo proferiu palavras
certas no momento necessário à contenção
Resta saber se nos três Poderes em disfunção
haverá ouvidos dispostos a compreender a mensagem
Em matéria de carta de intenções, o discurso
inaugural de Luiz Edson Fachin na presidência do Supremo Tribunal
Federal incluiu as melhores. A estreia sem festejos excessivos, com prestígio
ao coral da casa, fez jus ao apelo à contenção.
Palavras, gestos e recados certos no momento necessário. Primazia ao colegiado, atenção à segurança jurídica, senso de dever em detrimento da sensação de poder, reprovação a privilégios, resistência à tentação do espetáculo midiático, elogio à austeridade —estava tudo lá e mais a frase síntese: "Ao direito o que é do direito, à política o que é da política".
Ocorre que um
Fachin sozinho não faz verão. Há de se conferir se ele terá
companhia e respaldo em seus propósitos. A começar dentro do tribunal,
estendendo-se a dúvida aos demais Poderes.
Afinal, o Supremo não assumiu o protagonismo
atual apenas por autoconvocação. Foi escalado para tal papel também pelas
deficiências preguiçosas do Executivo e do Legislativo.
O Palácio do Planalto estará mesmo disposto a
desistir da parceria, para investir na própria organização e melhoria na
articulação? E o Congresso, deixará de se socorrer no Judiciário a cada vez que
uma corrente política se sentir prejudicada?
A essas possibilidades improváveis
acrescente-se a hipótese remota de personalidades mais esfuziantes com assento
no tribunal aderirem ao comedimento e a falas restritas aos autos.
O estilo austero, mas cordial, do novo
presidente se contrapõe ao perfil combativo de parte de seus pares, cuja ideia
de defesa da Constituição se baseia na capacidade individual de reafirmar
preceitos nela inscritos a respeito dos quais caberia apenas a eles,
magistrados, decidir, sem a necessidade de discuti-los em público.
A avaliação geral é a de que a gestão de
Fachin favorece o distensionamento de ânimos. Depende. Terá pregado
no vazio, caso os valores defendidos por ele não atendam aos interesses e às
vocações dos que pregam a normalização, mas se criam na aba das atuais
distorções.
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