O Estado de S. Paulo
O problema do presidente é a dificuldade para demitir, deixando o ‘fogo amigo’ se espalhar
A um ano das eleições de 2026, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva decidiu deixar o Centrão em banho-maria. Na prática,
Lula aguarda a saída de ministros e integrantes desse grupo, após o ultimato
dado pela cúpula do União Brasil e do PP, sem de fato acreditar que haverá grandes
baixas na equipe.
O presidente sabe que não terá apoio integral do Centrão nem do MDB na campanha, mas espera conquistar pedaços desses partidos. O que ele não quer é um casamento de papel passado dos “aliados” de conveniência com o bolsonarismo. Pelos cálculos do Planalto, de 18 a 20 ministros devem sair no início de abril para concorrer às eleições. Diante dessa expectativa, o presidente fará agora apenas pequenas mudanças na equipe.
O problema de Lula, porém, é sua dificuldade
para demitir. Com isso, ele acaba deixando ministros expostos à fritura
política. É o caso de Márcio Macêdo (PT), que comanda a Secretaria-Geral da
Presidência.
O deputado Guilherme Boulos (PSOL) já foi
convidado para assumir a cadeira de Macêdo. Embora o MST torça o nariz para
Boulos, Lula afirmou a dirigentes do PT que quer o deputado na equipe para dar
uma “chacoalhada” no time e organizar os movimentos sociais. Até hoje, no
entanto, não falou com Macêdo, deixando o auxiliar com a constrangedora tarefa
de dizer que é vítima de “fogo amigo”.
O mesmo ocorreu com Paulo Pimenta, que ficou
meses sendo “fritado” até o presidente tornar público o descontentamento e
anunciar a troca na Secretaria de Comunicação Social pelo marqueteiro Sidônio
Palmeira.
Atualmente, mais do que se preocupar com as
ameaças de divórcio do Centrão, Lula monitora as articulações de Tarcísio de
Freitas. No seu diagnóstico, o jogo mudou e o governador somente será seu
desafiante se Jair Bolsonaro não tiver opção para manter seu projeto. A
avaliação no Planalto é a de que, se Tarcísio for adversário de Lula, a
centro-esquerda terá chance para a disputa ao Bandeirantes.
Apesar de querer que Geraldo Alckmin continue
vice de sua chapa, Lula planeja sondá-lo sobre sua disposição para a corrida ao
governo paulista. Neste cenário, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é
visto como forte candidato ao Senado.
Nenhum dos dois tem intenção de entrar no
páreo. O argumento no governo, porém, é o de que todos precisam ir “para a
guerra”. Sendo assim, a partir de abril, a equipe de Lula será tocada por
muitos secretários executivos. Mas o ministro da Defesa, José Múcio, ficará até
o fim.
Apesar de estar cercado por militares e por
assuntos indigestos, como anistia a golpistas, guerra não é com Múcio, que tem
até um álbum de músicas gravadas. Curiosamente, com uma faixa intitulada Revés.
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