quarta-feira, 1 de outubro de 2025

O estilo Lula de ‘fritar’ ministros. Por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

O problema do presidente é a dificuldade para demitir, deixando o ‘fogo amigo’ se espalhar

A um ano das eleições de 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu deixar o Centrão em banho-maria. Na prática, Lula aguarda a saída de ministros e integrantes desse grupo, após o ultimato dado pela cúpula do União Brasil e do PP, sem de fato acreditar que haverá grandes baixas na equipe.

O presidente sabe que não terá apoio integral do Centrão nem do MDB na campanha, mas espera conquistar pedaços desses partidos. O que ele não quer é um casamento de papel passado dos “aliados” de conveniência com o bolsonarismo. Pelos cálculos do Planalto, de 18 a 20 ministros devem sair no início de abril para concorrer às eleições. Diante dessa expectativa, o presidente fará agora apenas pequenas mudanças na equipe.

O problema de Lula, porém, é sua dificuldade para demitir. Com isso, ele acaba deixando ministros expostos à fritura política. É o caso de Márcio Macêdo (PT), que comanda a Secretaria-Geral da Presidência.

O deputado Guilherme Boulos (PSOL) já foi convidado para assumir a cadeira de Macêdo. Embora o MST torça o nariz para Boulos, Lula afirmou a dirigentes do PT que quer o deputado na equipe para dar uma “chacoalhada” no time e organizar os movimentos sociais. Até hoje, no entanto, não falou com Macêdo, deixando o auxiliar com a constrangedora tarefa de dizer que é vítima de “fogo amigo”.

O mesmo ocorreu com Paulo Pimenta, que ficou meses sendo “fritado” até o presidente tornar público o descontentamento e anunciar a troca na Secretaria de Comunicação Social pelo marqueteiro Sidônio Palmeira.

Atualmente, mais do que se preocupar com as ameaças de divórcio do Centrão, Lula monitora as articulações de Tarcísio de Freitas. No seu diagnóstico, o jogo mudou e o governador somente será seu desafiante se Jair Bolsonaro não tiver opção para manter seu projeto. A avaliação no Planalto é a de que, se Tarcísio for adversário de Lula, a centro-esquerda terá chance para a disputa ao Bandeirantes.

Apesar de querer que Geraldo Alckmin continue vice de sua chapa, Lula planeja sondá-lo sobre sua disposição para a corrida ao governo paulista. Neste cenário, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é visto como forte candidato ao Senado.

Nenhum dos dois tem intenção de entrar no páreo. O argumento no governo, porém, é o de que todos precisam ir “para a guerra”. Sendo assim, a partir de abril, a equipe de Lula será tocada por muitos secretários executivos. Mas o ministro da Defesa, José Múcio, ficará até o fim.

Apesar de estar cercado por militares e por assuntos indigestos, como anistia a golpistas, guerra não é com Múcio, que tem até um álbum de músicas gravadas. Curiosamente, com uma faixa intitulada Revés. •

 

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