Folha de S. Paulo
Proposta de paz do presidente americano tem
problemas, mas é chance de parar carnificina
Se acordo avançar, haveria governo palestino
formado por tecnocratas e sem participação do Hamas
Não costumo perder oportunidades de criticar Trump, então, hoje, para variar, vou elogiar seu plano de paz para o Oriente Médio. A proposta tem inúmeros problemas, mas oferece uma chance palpável de interromper a carnificina em Gaza. Não desperdiçá-la é um imperativo moral.
Passemos agora às dificuldades. A primeira é
o Hamas. O grupo terrorista ainda não respondeu se aceitará o plano, mas há
indicações de que o fará. Pelo projetado, a organização teria de depor armas,
libertar todos os reféns e renunciar a qualquer papel num futuro governo
palestino, que seria formado por tecnocratas, com apoio de países árabes e
supervisão de personalidades internacionais, incluindo o próprio Trump e o
ex-premiê britânico Tony Blair.
Em contrapartida, os militantes do Hamas
seriam anistiados, e Israel libertaria 250 palestinos condenados à prisão
perpétua, além de 1.700 moradores de Gaza feitos prisioneiros durante a guerra.
Desistir do poder não é algo que o Hamas em
condições normais escolheria, mas o grupo está sob intensa pressão militar e
política. A adesão de Israel à proposta também enseja dúvidas. Depois de ter
sido engabelado um par de vezes por Netanyahu, Trump agora pressionou de
verdade o premiê israelense, que acabou aceitando o plano, além de ter
telefonado para o emir do Qatar desculpando-se pelo ataque a Doha.
Não é certo, porém, que as alas mais
extremistas de seu governo concordem, o que pode levar ao rompimento da
coalizão. É possível que tanto o Hamas como Netanyahu contem com a indefinição.
O plano é tão vago em relação à sua implementação que é sempre possível
aceitá-lo, colher benefícios imediatos e depois acusar o adversário de
descumprimento e retirar-se do acordo.
Israel fez exatamente isso para abandonar o
último cessar-fogo. Apesar das dificuldades já visíveis e das que ainda
aparecerão, Trump
costurou uma boa rede de apoios diplomáticos à proposta, que, mesmo
que morra no meio do caminho, pode trazer algum alívio para os palestinos e a
libertação dos reféns.
Nenhum comentário:
Postar um comentário