O Estado de S. Paulo
Vai
ser difícil encontrar na história da Câmara dos Deputados um projeto de lei
aprovado em plenário por unanimidade, como o desta vez, por 493 votos. É o
projeto de lei que isenta de Imposto de Renda, rendas mensais de até R$ 5 mil,
desonera parcialmente quem recebe até R$ 7.350 e sobretaxa a turma da ponta da
pirâmide de renda, os mais ricos. Agora, é a vez do Senado.
Trata-se de um projeto de cunho eleitoral, tanto para o governo como para a oposição. É eleitoral para o governo na medida em que beneficia perto de 15 milhões de contribuintes, especialmente os da classe média, cujo apoio político começava a escorrer. Foi a principal promessa de campanha do então candidato Lula. E é eleitoral também para a oposição: o político que votasse contra o projeto enfrentaria efeitos eleitorais negativos.
Pelos
cálculos do governo, essa isenção produzirá uma quebra de arrecadação de R$ 27
bilhões por ano que passará a ser reposta por taxação adicional de até 10%
sobre a renda dos mais ricos, condição que alcança 141 mil contribuintes.
O
governo comemora a aprovação inicial pela Câmara como vitória de um projeto de
justiça tributária e de desconcentração de renda. Mas, atenção, está aí um
santo que continua sendo de barro, altamente vulnerável, tendo em vista a alta
capacidade das camadas mais ricas de utilizar recursos de administração
tributária para escapar ou para minimizar os efeitos das garras do leão. O
impacto sobre a distribuição de renda deve ser cosmético. Nesse sentido, essa
lei não esconde sua natureza populista.
Levando-se
em conta que o início da vigência prática dessa lei deve ser o início de 2026,
sua principal consequência econômica será uma sobra de renda na conta bancária
das população de classe média. Pela avaliação do governo, uma professora com
salário mensal de R$ 4,9 mil terá uma raspa anual de tacho de R$ 4 mil. E um
taxista que receba R$ 3.650 mensais, se livrará de uma mordida de R$ 1.060 por
ano. São recursos que tendem a ser pulverizados no pequeno consumo.
Além
de não garantir uma persistente distribuição de renda, a aprovação dessa lei
aponta para importantes limitações. Não vem acompanhada de uma revisão da
tabela progressiva do Imposto de Renda na fonte. E isso significa que em poucos
anos, a inflação se encarregará de pulverizar as isenções.
Em
segundo lugar, não se preocupa com criação de poupança, que é o primeiro passo
para o avanço do investimento e do aumento futuro da atividade econômica e do
emprego. A taxação de dividendos imposta sobre os mais ricos, por exemplo,
poderia prever certo incentivo para a parcela que fosse revertida em
investimento.
Por
aí se vê que a intenção do governo e dos políticos ao garantir a aprovação
desse projeto de lei não tem nada a ver com a correção das distorções
estruturais do sistema. Seus objetivos são de curto prazo. É um arranjo com
poucos anos de prazo de validade, montado com habilidade política para
conquistar as boas graças do eleitor.
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