Valor Econômico
Ministros logo se aperceberam que o titular da Comunicação chegou para mexer não só na sua área, mas na agenda da gestão
A unanimidade
com a qual a Câmara aprovou a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil com
aumento de tributação para rendimentos acima de R$ 50 mil, é uma rendição dos
deputados à agenda com a qual o ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Pereira, chegou
ao Palácio do Planalto munido de pesquisas sobre o desgosto do eleitor mundo
afora com impostos.
Sua posse na Secom aconteceu apenas em janeiro, mas foi sob sua influência que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no final de novembro do ano passado, dobrou todo o governo, a começar por Fazenda e Planejamento, que queriam aprovar um ajuste fiscal robusto antes da reforma da renda.
Foi neste momento que o governo foi para o
fundo do poço com o dólar batendo R$ 6,10 ante o alarme fiscal e o impacto da
“fake news” do deputado Nikolas
Ferreira (PL-MG) sobre o Pix que levou o mercado a
decretar a “dilmização” do governo Lula e abraçar a perspectiva de ter o
governador Tarcísio
de Freitas no Palácio do Planalto em 2026. A questão
fiscal não foi enterrada e se sabe que Lula, se reeleito, não terá como escapar
de um ajuste já em 2027 se quiser dar sobrevida ao arcabouço, mas o tema deixou
de nortear o governo.
Custou para Sidônio
conquistar a Esplanada até porque a popularidade de Lula custava a reagir. Os
ministros logo se aperceberam que o novo ministro não havia chegado para
consertar o “problema de comunicação” do governo, mas para mexer na agenda,
inclusive naquela de suas Pastas.
A virada começou com o tarifaço ao qual os
estrategistas do governo recusam a alcunha de “presente” de Donald Trump em função das
perdas impostas à economia. Sempre se soube que a bandeira da soberania não
seguraria, até 2026, necessidade de o governo ter uma cara diferente do “Vale a
pena ver de novo”.
O “presente” americano ajudou a estancar a
isenção do IR porque o PL passou a acreditar que a anistia seria possível. Foi
quando a federação PP/União alinhavou o pacote blindagem/anistia, cujo
naufrágio levou à unanimidade da noite de quarta-feira (1º) na Câmara.
Depois de arrancar, de Hugo Motta (Republicanos-PB),
não apenas a relatoria da isenção do IR, há exatos seis meses, como também sua
autoridade, pelas barganhas em série que pôs à mesa com o PL nas mãos, o
deputado Arthur Lira (PP-AL) cedeu
e liberou seu relatório para votação.
Teve que ceder não apenas ante uma Câmara
desesperada para limpar a barra com o eleitor depois da aprovação da PEC da blindagem, como também
face à pressão do seu rival alagoano, Renan Calheiros (MDB-AL), que aprovou projeto
semelhante de isenção no Senado, e às dificuldades para conquistar o voto
majoritário em Alagoas com as pautas negativas que se acumulam desde que ficou
evidenciada sua maestria no orçamento secreto.
A aprovação da isenção do IR demorou tanto
que o segundo item da pauta de Sidônio, o binômio corrupção/segurança pública,
passou à sua frente, a princípio na carona da investida da dobradinha CGU/STF
sobre as emendas parlamentares e, em seguida, com as sucessivas operações sobre
a rede de ilícitos que envolve devedores contumazes e crime organizado na
lavagem de dinheiro por meio de fintechs, postos, hotéis e imobiliárias que
findou nos drinques adulterados por metanol.
Além de resgatar o
desfavorecido que votou em Bolsonaro, a isenção de IR até R$ 5 mil é uma pauta
sem gênero num governo cujos programas sociais beneficiam, marcadamente, as
mulheres a partir do carro-chefe do Bolsa Família. O programa destinado à
reforma de casas, com financiamento até R$ 100 mil, é outro sem carimbo de
gênero.
Neste pacote sem carimbo entra também a
liberação de Lula para que o Ministério dos Transportes liberasse a resolução
que desobriga a autoescola para a obtenção da CNH, ideia há tempos acalentada
pelo ministro Renan
Filho.
O fim
do cartório da autoescola beneficia jovens do país inteiro que vinham
retardando a obtenção da CNH pela dificuldade de pagar pela capacitação
obrigatória e motoristas que também passaram a ser mais autuados por dirigirem
sem a carteira. A demora afeta mais as mulheres e a autuação, os homens.
Até a chegada de Sidônio no governo, Lula era
assediado pela ideia de que precisava moderar a agenda para conquistar o
“centro”. Agora a ordem é buscar o eleitor que o lulismo perdeu para o
bolsonarismo, onde quer que ele esteja.
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