Folha de S. Paulo
Presidente americano dá mais um passo em sua
agenda autoritária
Founding fathers já se preocupavam em isolar
comandantes militares da política
Quando eu pensava que nada mais que Donald
Trump pudesse fazer me surpreenderia, o Agente Laranja convocou centenas de
oficiais-generais dos seis ramos das Forças Armadas dos EUA e lhes cobrou
uma espécie de juramento de fidelidade.
Não fidelidade às leis e à Constituição, mas ao projeto político-ideológico trumpiano. Tratando-se do atual presidente americano, é difícil saber o que é para valer e o que é bravata, quais propostas serão implementadas e quais serão esquecidas no turbilhão de ideias chocantes que ele lança diariamente.
Mas, se ele levar mesmo adiante esse projeto
de fidelização das Forças Armadas, terá desferido o que talvez seja seu maior
golpe contra a democracia na América. Os EUA são um raro caso de país com
Forças Armadas que ocupam lugar central na política nacional, mas cujos
generais são apolíticos, atuando com profissionalismo e evitando meter-se em
disputas partidárias.
Um bom exemplo disso se deu justamente sob
Trump 1. Em 2020, ele tentou envolver os militares em política interna e tomou
um belo chega para lá do então chefe do Estado-Maior, general
Mark Milley. É até provável que tenha sido esse episódio que convenceu
Trump da necessidade de enquadrar os comandantes das Forças Armadas para seguir
com seus planos autocráticos.
O problema não é novo. Até os antigos
romanos, que não eram exatamente democráticos, sabiam dos riscos de misturar
tropas com política. Foi por isso que criaram uma lei que proibia governadores
de províncias, que também eram generais, de entrar com seus soldados na
península Itálica.
Foi essa norma que Júlio
César rompeu quando, em janeiro de 49 a.C., atravessou o Rubicão com a 13ª
Legião. Foi ali também que morreu a República.
Esse tema recebeu especial atenção dos founding
fathers dos EUA e de legisladores subsequentes que criaram vários
mecanismos para tentar isolar os militares das disputas políticas domésticas.
Se Trump conseguir cooptar os generais, aí não haverá muito mais a distingui-lo
de um Putin ou um Maduro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário