O Estado de S. Paulo
Governador de SP pode até reconhecer a disputa da reeleição como o caminho mais correto, mas esse não é o plano do Centrão e ele não poderá dizer não a Bolsonaro
Quantas vezes você já ouviu o governador de
São Paulo, Tarcísio de
Freitas, dizer publicamente que pretende disputar a reeleição ao governo de
São Paulo? Foi
o que se deu, de novo, no início da semana, ao deixar a casa do ex-presidente
Jair Bolsonaro. Também nos bastidores, vários aliados ouvem o mesmo.
Ninguém acredita, porém, e as perguntas sobre o assunto continuam pipocando. E
a razão é muito simples: Tarcísio não é mais dono de seu próprio destino.
Eis uma lição clássica que políticos mais antigos sempre repetem quando questionados sobre uma decisão sobre candidatura. Chega um momento em que você vai, empurrado ou não, queira ou não, no sacrifício ou não, para qualquer disputa. É exatamente o que pode se passar com Tarcísio. Por bons e maus motivos. Empurrado ou barrado pelo Centrão de um lado e por Bolsonaro de outro.
O bom motivo é que ninguém é empurrado à cabeça de chapa de uma eleição ao mais importante do País sem que tenha se tornado uma figura de alta viabilidade. Tarcísio conquistou prestígio político e passa a ideia de alguém que pode vencer, razão pela qual as figuras do centrão que orbitavam o bolsonarismo o querem na campanha. Esses grupos ao centro e na centro-direita, que até chegaram a tolerar a participação em uma gestão petista mas que sempre quiseram mais, veem no governador de São Paulo como o cara capaz de vencer.
Há, porém, a voz forte o suficiente para mexer com os destinos de Tarcísio de Freitas: o ex-presidente Jair Bolsonaro. E é por isso que aliados dizem que, se Bolsonaro pedir, Tarcísio, a contragosto, disputará a Presidência. Está expresso em reportagem de Bianca Gomes e Pedro Augusto Figueiredo publicada neste Estadão, acerca da visita de Tarcísio a Bolsonaro.
Recentemente, um aliado de Tarcísio
explicitava com mais detalhes esse raciocínio. Usava como argumento a
disciplina militar e o senso de que “missão dada é missão cumprida”. Dizia ele
que, uma vez que Bolsonaro passasse uma missão a Tarcísio, o homem que ele
inventou para a política, seja por gratidão ou pelo desafio, Tarcísio não
poderia dizer não.
Hoje, o governador diz que tem interesse em
disputar a reeleição. Nem poderia ser diferente. Não poderia atropelar a
palavra de Bolsonaro e seus familiares, que estrilam apenas com um movimento
mais dúbio do governador. Ele não está autorizado a dizer nada diferente.
Além do mais, preferir a disputa do
Bandeirantes faz sentido. Tarcísio tem uma eleição considerada bastante viável
em São Paulo e se manteria como um nome cotadíssimo para 2030, quando a disputa
nacional tende a estar mais aberta. Na esquerda, não estará mais o único homem
que ganhou três eleições nacionais, elegeu aliados outras duas vezes e que,
neste século, só viu seu grupo político perder uma disputa ao Planalto quando
estava preso. Por mais que enfrente desgaste e uma popularidade claudicante,
Lula, candidato a reeleição, é um nome sempre difícil de ser batido.
Há também os dissabores que Tarcísio terá que
enfrentar se aceitar a empreitada. Se hoje ele já enfrenta as pressões do
bolsonarismo, incluindo uma parcela ainda mais radical comandada por Eduardo
Bolsonaro, imagine quando ele não tiver mais o controle do Estado, em abril do
ano que vem, quando terá que se desincompatibilizar. Será obrigado a rezar a
cartilha da família sem qualquer questionamento, sob o risco de ser abandonado
ou traído, sem nada, com o lançamento de uma candidatura com o sobrenome de
Jair. Significa dizer que terá que defender a pauta radical que o bolsonarismo
exige, gastando imagem e capital político, mesmo sob o risco de se tornar o
cabra marcado para perder.
Mesmo sabendo de tudo isso, Tarcísio muito
provavelmente precisará dizer sim se essa for a vontade de Bolsonaro. E cada
vez mais parece não haver alternativa para o ex-presidente. O plano A da
família, decantada a inelegibilidade de Jair, seria Eduardo. A campanha
americana do deputado federal tornou essa possibilidade remota. Ele não poderá
voltar ao Brasil. Será condenado e tornado inelegível. É carta fora do baralho
da urna.
As ações no exterior em conspiração com Trump
para salvar o pai afetaram também qualquer um com o mesmo sobrenome. De Jair a
Michelle, passando por Flávio. As pesquisas mostram que a rejeição à família
aumentou. Razão pela qual escolher um nome do núcleo se tornou mais difícil. A
não ser que a vitória não esteja mais no horizonte.
Se Lula melhorar a ponto de se tornar um
favorito mais claro, a família Bolsonaro pode escolher perder com um dos seus
para tentar manter o controle da direita. Como fez Lula em 2018, ao se recusar
a apoiar um nome viável de outro partido.
Se a disputa estiver aberta, como está hoje ainda, contudo, com qualquer alternativa a anistia ou ruptura por pressão externa fracassando, Bolsonaro terá que escolher quem tem mais chance de seu grupo. Apostando em um indulto, por mais polêmico e difícil que seja. Este nome é Tarcísio. E seu destino será concorrer.
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