• Militantes não conseguem enxergar o fracasso da política econômica da presidente reeleita, algo que ela mesma dá a entender que já reconhece
O mundo visto pela ótica das ideologias pode ser o paraíso ou o inferno, a depender das convicções de quem o observa. Neste sentido, é esclarecedor o manifesto assinado por intelectuais e ativistas do PT contra a escolha do economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para a Agricultura.
Levy — suprema heresia — é um diretor de banco, o Bradesco, aquele tipo de gente que, segundo a campanha eleitoral da reeleição da petista Dilma Rousseff, tiraria a comida da mesa das famílias brasileiras caso chegasse ao poder pelas mãos do oposicionista Aécio Neves. Já Kátia Abreu, algo não menos herético, surgiu na vida pública como ativa defensora do agronegócio, tão demonizado por petistas e aliados quanto o "capitalismo financeiro".
No caso da senadora, admita-se que o fato de o lulopetismo conviver há 12 anos, sem qualquer crise de consciência, com políticos que ilustram à perfeição teses acadêmicas sobre o coronelismo nordestino não deveria fazer com que o bom relacionamento que Dilma estabeleceu com a senadora, na fase final de seu primeiro mandato, melindrasse o partido. Signatários do manifesto parecem acometidos de um purismo tardio e fora de época.
Caso se confirmem as escolhas, esses militantes poderão se sentir traídos por Dilma. Mas terá de ser reconhecido que a presidente reeleita demonstrou admitir algo, de forma implícita, por sobre suas convicções ideológicas: que o Estado brasileiro ruma para a insolvência, devido ao fracasso da sua política do "novo marco macroeconômico".
E nesta caminhada para a ruína faz explodir a inflação, engessada acima da perigosa faixa do 6%, desequilibra as contas externas — este déficit se aproxima de ameaçadores 4% do PIB — e atola a economia na estagnação.
Daí a candidata, na campanha, ter evitado detalhar qualquer aspecto da política econômica do segundo mandato, sem avançar para além dos óbvios compromissos com a manutenção dos programas sociais — um mantra na política brasileira, da situação, óbvio, e também da oposição. Mas a candidata já devia saber que sem a economia crescer e com inflação alta e persistente não há avanço social que resista.
O manifesto falseia ao afirmar que possíveis nomeações de ministros "sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas".
Faltou atenção aos redatores do manifesto: se em nenhum momento a candidata Dilma disse dos palanques o que faria em termos de política econômica, também não foi enfática na defesa da manutenção dos rumos. Alardear que está a favor da manutenção de empregos e dos pobres é o mesmo que defender em praça pública a luz elétrica e a água encanada. Ninguém discorda. O problema é fazer com que não faltem nem luz nem água. E esta é responsabilidade direta da presidente, e não do PT e militantes.
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