- O Estado de S. Paulo
Nem é preciso circular pelos bastidores para ver como os ânimos andam exaltados no Parlamento. Basta ligar a televisão. Ontem mesmo o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho, informou publicamente ao presidente do Senado, Renan Calheiros, que ele representava a "vergonha do Congresso Nacional".
Desnecessário discorrer sobre a razão da expressão nem lembrar quem são os responsáveis pela recondução de Calheiros ao cargo do qual fora obrigado a renunciar para não ter o mandato cassado. Por aí se vê como suas excelências costumavam ser mais condescendentes entre si.
Desde a volta das atividades legislativas após as eleições, a cada avanço na Operação Lava Jato os nervos ficam mais retesados, o ar quase em estado sólido de tão tenso o ambiente. Todos desconfiam de quase todos, enquanto garantem que não têm nada com isso. Fala-se em 70 pessoas citadas, cinco partidos referidos, sendo que três deles - PP, PT e PMDB - já com modus operandi e autorias rascunhadas nos acordos de delação premiada de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef.
A notícia mais recente, publicada ontem no Estado, relata que segundo Costa o modelo do PMDB atuava com vários operadores, cada um atendendo a uma corrente diferente do partido. Passou a funcionar depois que ele, indicado inicialmente pelo PP para a Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, precisou robustecer seu apoio político para permanecer no cargo.
Aqui a história toma dois rumos. Um conhecido e que necessariamente nada tem de ilegal e outro pertencente ao conteúdo dos depoimentos envolvendo políticos que estão na posse do Supremo Tribunal Federal.
Paulo Roberto entrou em contato com o partido a conselho da então recentemente eleita presidente Dilma Rousseff. Ele deveria se entender com o PMDB. E assim fez em reunião com o também recentemente eleito vice-presidente Michel Temer, por intermédio de Moreira Franco, atual ministro da Secretaria de Aviação Civil. Se desse entendimento político decorreram outros tipos de desdobramentos, seria leviano e precipitado concluir.
Mas, como qualquer tipo de contato com Paulo Roberto levanta suspeitas, ficam todos na retranca. Até a oposição que, embora vá ter uma bancada de medalhões no Senado, aguarda a divulgação dos políticos envolvidos na Lava Jato para ver se Calheiros terá a ousadia de se candidatar de novo a presidente da Casa.
Melhor maneira. Em todo o período de campanha presidencial, o comitê financeiro do PT arrecadou R$ 565 mil em doações de pessoas físicas.
No início do ano, em menos de um mês o partido conseguiu amealhar R$ 2,7 milhões para pagar as multas impostas pela Justiça aos mensaleiros petistas. Ou seja, o PT tem uma extraordinária capacidade de mobilizar pessoas físicas e transformá-las em doadoras.
De onde decorre a dúvida sobre a insistência no financiamento público de campanhas, a aceitação de doações de empresas privadas (mais de R$ 340 milhões neste ano) e a resistência em utilizar em suas campanhas políticas a metodologia da "vaquinha" para o mensalão.
A não ser que os métodos usados para arrecadar dinheiro das multas não tenham sido os alegados.
Fio da meada. A julgar pela diferença dos valores entre os orçamentos iniciais e os custos finais das obras da Copa do Mundo - regidas por um regime de lei diferenciado aprovado com rapidez no Congresso - não será surpresa alguma se amanhã ou depois surgir outro escândalo de contratos superfaturados.
Afinal de contas, se, como diz o advogado do lobista Fernando Baiano, no Brasil "não se põe um paralelepípedo no chão" sem composição ilícita, imagine o que não deve ser feito para por tantos estádios fabulosos em pé.
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