Após delações, parlamentares e ministros devem ser investigados
• Procurador-Geral pretende pedir abertura de inquérito contra citados
Carolina Brígido e Jailton de Carvalho - O Globo
BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá pedir, em breve, a abertura de inquérito contra pessoas acusadas nos depoimentos do doleiro Alberto Youssef, assim que receber o conteúdo da delação premiada. Ele enviará ao Supremo Tribunal Federal (STF) as investigações contra pessoas com direito a foro especial, como parlamentares e ministros. As demais serão alvo da Justiça Federal no Paraná.
Para Janot, os conteúdos das delações de Yousseff e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa são suficientes para embasar as investigações de corrupção na estatal. Mais delações premiadas devem ser acordadas entre o Ministério Público e outros suspeitos, especialmente dirigentes de empreiteiras envolvidos. Caso os próximos depoimentos apresentem novos indícios, outros inquéritos serão abertos.
Os primeiros indícios de fraude na Petrobras foram enviados ao STF com base nos depoimentos de Costa. Janot, porém, pediu que as investigações só fossem iniciadas após a conclusão de todas as delações premiadas. Agora, com os novos depoimentos de Youssef, Janot pedirá abertura de inquérito contra pessoas apontadas como participantes do esquema.
Os casos tramitam em segredo de justiça. Caso o Ministério Público apresente denúncia contra os suspeitos, e se a Justiça abrir ações penais contra os acusados, o conteúdo das delações poderá ser revelado. As fraudes na Petrobras vieram à tona na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Foram presos dirigentes da estatal e de empreiteiras envolvidas no esquema.
Em seus depoimentos, Youssef denunciou 80 suspeitas de fraudes, corrupção, movimentação ilegal de dinheiro e outros crimes praticados por ele, grandes empreiteiras, políticos e funcionários da Petrobras. A íntegra dos interrogatórios deve ser enviada a Procuradoria-Geral da República na próxima semana e, a partir daí, ao STF.
Caberá o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, decidir se homologa a delação do doleiro. Com base nas revelações de Youssef e de Costa, Teori decidirá se abre inquérito contra parlamentares acusados. Investigadores calculam que Teori só deverá deliberar sobre o tema em janeiro ou fevereiro do próximo ano.
Youssef assinou acordo de delação com o Ministério Público Federal em setembro. Desde então, vinha prestando uma média de quatro a seis horas de depoimento, cinco dias por semana. O doleiro e as demais pessoas e empresas investigadas na operação movimentaram de forma suspeita R$ 23,7 bilhões entre 2011 e 2014, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Youssef e Costa citaram políticos beneficiários dos desvios.
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