- O Estado de S. Paulo
Sabe aquela história de que, quanto mais você fala em desgraça, mais você atrai desgraça (toc toc toc)? Pois é. Tanto a presidente Dilma Rousseff insistiu em atribuir a crise econômica a “fatores externos” que os fatores externos passaram a ser realmente um grande fantasma sobre a já mal assombrada economia brasileira. As incertezas na China começam a abalar o mundo todo, particularmente os fornecedores de commodities, caso do Brasil. Logo, o que está ruim ainda pode piorar.
É por isso que a presidente passou a admitir, num dia, que demorou muito a perceber a gravidade da crise e, no outro, que 2016 não vai ser nenhuma maravilha. Nós todos já sabíamos disso, mas, partindo da presidente, uma presidente que nunca admite nenhum erro, a sensação é ainda mais preocupante.
Bem, é nesse clima que o ministro do STF e do TSE Gilmar Mendes toca adiante os questionamentos sobre a campanha de Dilma em 2014, o delator e ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o delator e doleiro Alberto Youssef põem mais lenha nessa fogueira e as orelhas da senadora Gleisi Hoffmann – que foi chefe da Casa Civil de Dilma no primeiro mandato – começam a arder.
Dilma está se esforçando para salvar o mandato, com suas viagens pelo País, suas entrevistas e discursos, as investidas para manter o PIB sob controle e a abertura dos cofres para neutralizar a base aliada. Mas parece que, quanto mais ela sopra, mais a fogueira cresce e as labaredas se espalham.
Pois não é que foi justamente nesse ponto da crise que o vice-presidente Michel Temer decidiu lavar as mãos e deixar a coordenação política para lá? Ele pode ter mil e uma razões objetivas, mas é impossível conter a onda de interpretações, deduções, projeções e fofocas que tomou conta do mundo político e começa a extrapolar para o mundo dos investimentos.
A bem de Temer, diga-se que ele tem mesmo sido de “extrema lealdade”, conforme a própria Dilma já declarou. Também a bem de Temer, diga-se que ele sempre se comprometeu em assumir a coordenação para garantir o ajuste fiscal, não para todo o sempre. E, finalmente, a bem de Temer, ele andava se queixando muito da “política miúda”. Em recente almoço, confessou que nunca viu uma coisa dessas, com uma fila de deputados se engalfinhando pelos cargos, mesmo os inexpressivos (deputados e cargos...).
Após essas ressalvas, é preciso dizer que elas, isoladamente ou em conjunto, não apagam as evidências de que o PMDB tem dado passos porta afora do governo e de que a saída de Temer da coordenação – contra a vontade da presidente – é não só um passo, mas um pulo para a independência do partido em relação ao PT, ao governo, a Dilma. Não por acaso, o braço direito de Temer na coordenação, Eliseu Padilha, também está de saída.
Nunca é demais lembrar que foi o próprio Temer quem lançou a tese de que “alguém” tem de reunificar as forças políticas, nem que, como já foi dito aqui neste espaço, a solução Temer, a la Itamar Franco, é o centro das articulações dos que torcem para Dilma cair, ou dos que simplesmente constatam que ela não teria como se sustentar por mais três anos e meio.
Logo, só há uma conclusão em relação à decisão do vice de sair da coordenação política de Dilma, mas continuar ativamente nas articulações políticas e no Congresso: Temer não vai precipitar nada, mas também não vai, digamos, fugir às responsabilidades constitucionais. Pelo sim, pelo não, o vice está se colocando à disposição, para eventualidades.
Só que... não há uma campanha eleitoral da presidente e outra do vice e as contas de 2014 são o maior perigo rondando Dilma neste momento. Chapa é chapa e, se der zebra por aí, os dois são inseparáveis.
Dúvida atroz. E o José Sérgio Gabrielli, hein? Se ele nunca viu, não ouviu falar nem tem de responder pelos bilhões pra cá, bilhões pra lá debaixo das suas barbas, para que serve a presidência da Petrobrás?
Nenhum comentário:
Postar um comentário