• Intriga ameaça controle de despesas no ano que vem e atinge Levy; Dilma 'sabia' da crise
- Folha de S. Paulo
Quando o governo vai mal das pernas e muito mal da cabeça, qualquer escorregão em casca de bananinha-ouro dá em tombo feio. Pior ainda quando o pessoal do Planalto despeja bananas no caminho dos colegas, digamos, de governo. Estão embanando Joaquim Levy, ministro da Fazenda, por esporte político, "demarcação de território"; até divergências normais de governo se tornam muito maiores que as de costume.
O rolo agora se deve à discussão sobre a origem do dinheiro para fechar as contas de 2016 no azul, pois as deste ano já foram para o vinagre. Sem um Orçamento decente para o ano que vem, a credibilidade dos economistas de Dilma 2 vai se esfarelar. Levy quer um plano duradouro e maior de corte de gastos, bidu, caçando receitas via impostos maiores para completar o pacote, se inevitável.
No Palácio do Planalto dos assessores "políticos" de Dilma, o plano é o inverso. Pior que isso, gente do palácio vaza suas "visões alternativas", o que logo se torna boato que escorre pelas mesas dos rapazes do mercado e por corredores do Congresso.
Parte dos conflitos é real e evidente, mas há gente que faz questão de enfatizar o quão Levy é "intransigente", "sem tato político", o que redunda em derrotas ou imputações de reveses, tais como ter de pagar a antecipação do "13º" de aposentados e pensionistas. Ou, como ficou evidente ontem, com a promessa de pagamento de meio bilhão de reais em emendas parlamentares, anunciado pelo articulador micropolítico do governo, Eliseu Padilha (PMDB).
Dadas a intriga e as derrotas reais do ministro, um sumiço devido a uma gripe ou uma visita à filha, reais ou fictícias, dão em boatos, "especulações de mercado" e, mais importante, em descrédito ainda maior que do governo Dilma 2 vá sair uma política econômica capaz de no mínimo evitar desastre ainda maior no curto prazo.
Levy pretende reduzir despesas obrigatórias, até porque não há alternativa a não ser acabar com o resto do escasso investimento federal (que deve cair de 30% a 40% neste ano) ou aumentar impostos, coisa que o ministro quer evitar ao máximo.
Aparentemente, não há disputa maior com Nelson Barbosa, ministro do Planejamento. Há oposição no Planalto e nos ministérios das Cidades e dos Transportes. Educação deve levar um talho grande também. Embora não esteja claro como tal coisa vá ser feita, a ideia é controlar as despesas da Previdência (pensões?).
Tais gastos no grosso crescem vegetativamente (mais aposentados etc.) e, no caso das aposentadorias, são em dois terços reajustadas pelo aumento do salário mínimo. A não ser em novo caso de revertério radical da presidente, em 2016 o reajuste deve ser de quase 10%, em ano em que a inflação deve cair abaixo de 6% e a receita do governo deve ficar, em termos reais, na mesma, uma encrenca.
O "erro" de Dilma
Diga-se o que se quiser dos economistas de Dilma 1. Mas até eles, ou a maioria deles menos um, apresentaram à presidente, antes da metade de 2014, um plano de evitar a derrocada final das finanças federais. Se por mais não fosse (alheamento radical?), Dilma Rousseff sabia, sim, do desastre que provocava.
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