Ao dizer que os partidos se preocupam mais com verbas do que ideias, o ex-presidente afirmou: “O sistema político fracassou. E fomos todos responsáveis.”
• Ex-presidente critica partidos; PSDB se coloca contra impeachment
“Hoje, os partidos estão mais preocupados em repartir verbas e brigar por poder do que em defender ideias” Fernando Henrique Cardoso
Ex-presidente da República
Silvia Amorim e Maria Lima - O Globo
-SÃO PAULO E BRASÍLIA- O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso disse ontem para empresários que a crise enfrentada pelo país é resultado não apenas de decisões tomadas pelo governo federal, mas de um fracasso do sistema político brasileiro. A avaliação foi feita durante sua participação no 18º Fórum de Varejo da América Latina, em São Paulo, segundo o site do “Valor Econômico”:
— Hoje, os partidos estão mais preocupados em repartir verbas e brigar por poder do que em defender ideias. O sistema político brasileiro fracassou, e fomos todos responsáveis. Precisamos mudar esse sistema, já que ele não teve condições de se regenerar.
Segundo o ex-presidente, o governo terá de negociar um pacto com a sociedade para que haja uma retomada de confiança no país.
— Só existem duas saídas para o governo equilibrar as contas: cortar gastos ou gerar crescimento econômico. Neste momento, é necessário cortar gastos — disse FH, acrescentando que o fim da crise depende de uma reforma política.
O ex-presidente também afirmou que o cenário político terá mais dificuldades que a área econômica nos próximos meses:
— A economia tem seu próprio ciclo. Ela passa por ajustes de produtividade agora, mas tem seu ciclo de saída e recuperação. A política é diferente, não existirá um novo ciclo se ele não for criado. Nos próximos meses, vamos assistir a uma grande instabilidade política.
Uma falta de consenso interno levou o PSDB a decidir que não vai liderar um movimento próimpeachment da presidente Dilma. A posição foi comunicada pelo senador Aloysio Nunes Ferreira a deputados da sigla em São Paulo, durante reunião realizada anteontem na Assembleia Legislativa do estado. Aloysio explicou que, se um processo para afastar Dilma for aberto no Congresso, o PSDB irá apoiá-lo. Mas, não partirá do PSDB um pedido de impeachment da presidente.
No encontro, Aloysio explicou que o PSDB precisa agir com cautela para evitar que tenha sua imagem arranhada em um momento político tão delicado. Tucanos avaliam que um rótulo de articulador da derrubada de Dilma prejudicaria os planos do partido de retornar ao Planalto.
Discurso unificado
Aloysio tomou como exemplo a inexistência de um consenso na bancada de São Paulo para explicar que a situação é semelhante a nível nacional. Ele destacou que, diante da falta de unidade, não há condições internas para que o PSDB dê início a um processo para tentar tirar Dilma do poder.
A cautela pregada por Aloysio é mais um resultado da reunião realizada na semana passada entre Fernando Henrique, o senador Aécio Neves e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, cujo objetivo foi unificar o discurso único no PSDB em tempos de crise política. Um dia após o encontro, Alckmin e Aécio foram a público defender a tese de que é preciso esperar as investigações contra a presidente Dilma nos tribunais Superior Eleitoral e de Contas da União para o partido se posicionar em relação a um eventual impeachment. Até então, lideranças tucanas estavam se manifestando isoladamente.
Presidente do PSDB, Aécio admitiu ontem que há divergências sobre o melhor caminho a seguir, e que conversas com setores do PMDB e outros partidos só deverão evoluir depois de desdobramentos da Lava-Jato:
— Acreditamos que haverá desdobramentos graves na LavaJato que podem impactar nessa posição. O TSE está retomando o julgamento das contas (da campanha eleitoral de Dilma), tem o o ministro Teori Zavaski (do Supremo) decidindo se libera o conteúdo da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa para ser anexado na ação que pede a impugnação da chapa... Por enquanto, estamos conversando.
O PSDB e partidos aliados argumentam que a formulação de um pedido de impeachment depende de condições jurídicas e políticas. Eles dizem que, na ponta do lápis, não chega a 200 o número de deputados que votariam pelo afastamento de Dilma.
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