Por Raquel Ulhôa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Sem ambiente político favorável à aprovação de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff neste momento, a oposição adiou a decisão sobre o rumo a ser defendido. A reunião dos partidos de oposição com juristas e lideranças de outros partidos - inclusive PMDB - para discutir o assunto, anunciada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) na semana passada, não tem data para ser realizada. Faltam elementos técnicos para justificar a abertura do processo e votos. A oposição sozinha não tem. Precisa atrair deputados da base governista para atingir o quórum necessário (2/3 dos 513 deputados federais). Além disso, a própria oposição não está totalmente convencida se a melhor saída é o impeachment.
Essa avaliação foi feita ontem, durante almoço, entre Aécio e lideranças do PSDB e do DEM. Feitas as contas, a conclusão é que não chegariam a 200 os votos a favor do impeachment. São necessários 342. Se não for suprapartidário, o processo não avançará. Os oposicionistas avaliaram que o governo agregou apoios importantes recentemente, como de banqueiros, entidades representativas ao setor produtivo e empresários. Faltam votos, ambiente político favorável e elementos técnicos.
Presidente do PSDB, Aécio deu entrevista, na qual manifestou confiança na abertura, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de investigação sobre suposto uso de dinheiro de propina pela chapa de Dilma na campanha eleitoral de 2014 e no resultado do julgamento do Tribunal de Contas da União (TCU), considerando irregulares as contas do governo Dilma Rousseff de 2014. O resultado do TCU poderia embasar pedido de impeachment. Já o do TSE, abrir caminho para a cassação da chapa Dilma-Temer.
Na entrevista, Aécio afirmou que a crise se agrava e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está cada vez mais fragilizado e desautorizado a cada votação, sem condições de impor sua agenda sequer à base aliada do Palácio do Planalto. Disse que a presidente Dilma Rousseff está "nas cordas" e não fala a verdade, quando se mostra surpresa com o tamanho da crise econômica.
"Aquilo que a presidente disse talvez seja a única das verdades: nos preparemos, porque teremos um ano de 2016 extremamente ruim para a economia e principalmente para os brasileiros, porque a crise que era econômica já é social. O desemprego continua avançando de forma muito rápida e nós sabemos o que isso impacta na vida das famílias e pessoas, com inflação alta e juros na estratosfera. Essa é a herança macabra do governo petista. Inflação saindo do controle, desemprego na estratosfera, juros escorchantes, e enfim, um desgoverno", disse Aécio.
Com relação a Levy, o tucano o considera cada vez mais fragilizado. "Começam a ser adotadas no país, novamente, medidas inspiradas naquela nefasta 'nova matriz econômica', que governou o país ao longo dos últimos anos [governo Luiz Inácio Lula da Silva], como a decisão recente dos bancos públicos de, de forma subsidiada, financiarem setores específicos da economia".
Aécio disse, ainda, que o ministro foi nomeado por causa da "necessidade emergencial" da presidente de escolher alguém com interlocução com o mercado, para resgatar a credibilidade do governo. Mas isso, para ele, virou coisa do passado e o sentimento da oposição é que o país é uma "uma nau desgovernada".
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