Marcelo de Moraes - O Estado de S. Paulo
Em Brasília, não há quem critique em público o corte de ministérios e cargos de confiança anunciado pela presidente Dilma Rousseff para tentar dar mais racionalidade à máquina federal. A medida, que agita a bandeira da austeridade, tem ótima acolhida na opinião pública. Afinal, significa redução de despesas, algo extremamente bem-vindo em período de crise econômica e depois de anos e anos de inchaço da administração.
A questão é que, se não falam publicamente, adversários da proposta já operam freneticamente para saber de que tipo de reforma o governo está falando. Ao anunciar a decisão de cortar 10 das 39 pastas existentes e mil cargos de confiança, o governo não especificou quais seriam rifadas e deixou em polvorosa os titulares de ministérios e auxiliares.
Sem essa definição, o governo viu reduzir o impacto que a reforma poderia ter. Passou também a impressão de que o Planalto tem hoje mais um plano de intenções do que uma proposta concreta.
É aí que está o nó da reforma. Faltou ao governo "combinar com os russos". Ou seja, será preciso negociar politicamente a retirada de cargos dos partidos aliados.
E, exatamente quando vive a maior crise de relacionamento com o PMDB, o corte sinaliza que o partido poderá ser o mais afetado. A legenda ocupa, hoje, a maior parte do chamado "grupo de risco" - ministros ameaçados de despejo. O partido é titular do Ministério da Pesca (uma barbada para acabar) e comanda o do Turismo, que foi desmembrado em 2003 do Esporte. Tem ainda secretarias recém-contempladas com status de ministério, como Aviação Civil e Portos.
Ora, com quatro pastas peemedebistas como alvo preferencial, é impossível imaginar que o PMDB saia feliz do redesenho. Ainda mais após o vice-presidente Michel Temer se afastar da função de principal negociador do governo com o Congresso.
Sem Temer, caberá à própria Dilma colocar o guizo no gato, além de incluir no corte pastas do PT. E correr o risco de ver sua frágil base aliada desmanchar-se de vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário