• A oposição adiou a reunião que estava programada para discutir a proposta de impeachment de Dilma Rousseff. PSDB, DEM, PPS e SD chegaram à conclusão de que nada acontecerá sem a participação do PMDB
- Correio Braziliense
A Operação Lava-Jato, que investiga 48 políticos com foro privilegiado, ronda o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto. A saída do vice-presidente Michel Temer da articulação política do governo foi vista por todos como mais um fator de enfraquecimento da presidente Dilma Rousseff, mas a cúpula do PMDB decidiu afrouxar a corda com o Palácio para evitar que seu afastamento fosse interpretado como uma ruptura com o governo. Até o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que vinha numa escalada de confronto, pegou leve nesta semana com o Palácio do Planalto.
Por essa razão, a oposição adiou a reunião que estava programada para discutir a proposta de impeachment de Dilma Rousseff. Os líderes do PSDB, DEM, PPS e SD, que haviam convocado a reunião, chegaram à conclusão de que nada acontecerá sem a participação do PMDB e resolveram esperar os desdobramentos da saída de Michel Temer da articulação política do governo. A tensão no Congresso, porém, não diminuiu nem um pouco.
Na Câmara, a cena política foi roubada pela CPI da Petrobras, que promoveu uma acareação entre o doleiro Alberto Yousseff e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa. Ambos aderiram à delação premiada e reiteraram seus depoimentos à Polícia Federal e à própria CPI, em alguns aspectos contraditórios. O choque de versões mais importante foi em relação ao suposto repasse de R$ 2 milhões desviados de contratos com a Petrobras da cota do PP para a campanha da presidente Dilma Rousseff, a pedido do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antônio Palocci.
Segundo Youssef, um dos delatores da Lava-Jato estaria detalhando ao Ministério Público Federal quem pediu o dinheiro para a campanha petista na eleição presidencial de 2010. O doleiro, entretanto, não quis dizer o nome do delator. Negou, porém, a afirmação de Costa de que fora ele, Yousseff, quem lhe pedira para arrecadar dinheiro para a campanha de Dilma. “Esse assunto me veio através do Alberto Youssef. Eu autorizei repassarem os R$ 2 milhões da cota do PP para a campanha de 2010. Eu ratifico integralmente os meus depoimentos. Todos eles”, disse o ex-diretor da Petrobras.
Yousseff contestou: “Eu vou me reservar ao silêncio com referência a esse assunto porque existe uma investigação do Palocci, e logo vai ser revelado e será esclarecido o assunto. Tem outro réu colaborador que está falando, eu não fiz esse repasse. Assim que essa colaboração for notificada, vocês vão saber realmente quem foi que pediu recurso e quem repassou esse recurso”, disse aos parlamentares. O doleiro negou envolvimento com o ex-ministro Antônio Palocci ou qualquer outra pessoa ligada ao petista, mas disse que o ex-presidente do PSDB Sergio Guerra (PE) recebeu R$ 10 milhões para encerrar a CPI da Petrobras anterior.
Campanhas eleitorais
Entre os senadores, porém, a notícia do dia foi o despacho assinado pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações penais da operação na primeira instância, que encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) documentos que podem ser provas de que a senadora Gleisi Hoffmann (PT) teria sido beneficiada pelo esquema investigado pela Operação Lava-Jato no Ministério do Planejamento.
Detectou-se o pagamento de propina através de um acordo firmado entre o Ministério do Planejamento e a empresa Consist Software para gestão de empréstimos consignados, que localizou documentos no escritório de advocacia de Guilherme Gonçalves, que prestou serviços à senadora nas campanhas eleitorais de 2010 e 2014. Os valores recebidos pela Consist teriam sido utilizados para efetuar pagamentos em favor de Gleisi Hoffmann.
De acordo com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, o ex-vereador de Americana (SP) Alexandre Romano e empresário Milton Pascowitch eram os operadores desta irregularidade. Foi apreendida uma planilha que citava o “Fundo Consist” e repasses a Gleisi Hoffmann e pessoas de sua confiança. A senadora foi chefe da Casa Civil no primeiro mandato da presidente Dilma.
A propósito, o ministro Gilmar Mendes, relator da contas da presidente Dilma Rousseff na campanha de 2014, determinou ontem que o Ministério Público de São Paulo investigue uma empresa que recebeu R$ 1,6 milhão da campanha de reeleição da presidente Dilma. Relatório da Secretaria de Fazenda de São Paulo sobre a empresa Angela Maria do Nascimento Sorocaba-ME, para apuração de “eventual ilícito”, foi remetido ao MP. A empresa foi aberta em agosto do ano passado e, até setembro, recebeu R$ 3,6 milhões. Desse total, notas no valor de R$ 1,6 milhão foram emitidas em nome da campanha eleitoral de Dilma. O PT nega irregularidades.
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