- Folha de S. Paulo
A declaração de amor à mulher, Michelle, parece ter sido o momento mais pop do último discurso de Barack Obama. Mas foi ao falar de um tema abstrato, a democracia, que o presidente dos EUA deixou a mensagem mais poderosa ao se despedir da Casa Branca.
Num país conhecido pela solidez das instituições, Obama lembrou que a tarefa de preservá-las deve ser permanente. "Nossa democracia é ameaçada sempre que nós consideramos que ela está garantida", alertou. Ele disse que a Constituição americana é admirável, mas não passa de um pedaço de papel. Para ser aplicada, depende de participação popular, defesa das liberdades e respeito às leis.
O presidente enumerou riscos à democracia. O primeiro, em suas palavras, é a "desigualdade gritante". "Nossa democracia não funciona sem que todos tenham oportunidades", afirmou. Ele celebrou a queda do desemprego, mas reconheceu que a renda do 1% mais rico sobe mais rapidamente que a dos outros 99%.
A segunda ameaça, disse Obama, é o preconceito contra minorias e imigrantes. Ele criticou a ideia de que os EUA viveriam uma era "pós-racial", repetida por quem se opõe às ações afirmativas. Também cobrou atenção a outros grupos vulneráveis, como refugiados e transgêneros.
Por fim, o democrata criticou a radicalização do debate público. Condenou a intolerância e reafirmou valores iluministas, a defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa. Ele disse que a política é uma batalha de ideias, mas requer honestidade e respeito à verdade factual. "A democracia pode sucumbir quando cedemos ao medo", advertiu.
Obama cometeu muitos erros no poder, mas soube sair de cena com um discurso voltado para o futuro, e não para o passado. O contraste com o sucessor não poderia ser mais gritante. Poucas horas depois, Donald Trump voltou à ribalta com o estilo de sempre : fez grosserias, atacou jornalistas e reforçou a promessa de erguer um muro contra imigrantes.
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