O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), fomentou uma crise de dimensão estadual com sua decisão de não aumentar o preço das passagens de ônibus na capital.
O congelamento constitui um ataque às finanças da cidade. Subsidiar o sistema de transporte custa mais de R$ 2 bilhões por ano; o populismo do prefeito acrescenta R$ 1,25 bilhão a essa conta.
Pressionado pelo arroubo de Doria, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), desistiu de majorar a tarifa do metrô e seguiu o caminho do afilhado político.
A realidade financeira, contudo, exigia certa maquiagem, por assim dizer. No arranjo, o bilhete básico (R$ 3,80) ficou sem correção, mas houve reajuste bem acima da inflação na integração de ônibus com metrô ou trem (de R$ 5,92 para R$ 6,80) e na modalidade diária (de R$ 16 para R$ 20) e mensal (de R$ 230 para R$ 300).
Trata-se de medida desequilibrada, pois impõe custo mais elevado sobre quem mais utiliza o sistema de transporte —vale dizer, sobre a população mais pobre.
Que seja; era uma escolha política. Doria e Alckmin foram eleitos para tomar decisões dessa natureza, concorde-se ou não com a visão de mundo que elas possam refletir.
Com uma ação judicial oportunista, contudo, o PT conseguiu suspender os reajustes. Pergunta-se: mantido o congelamento por força dos tribunais, com o decorrente rombo nas contas do Estado e do município, a quem os magistrados prestarão contas? Certamente não a seus eleitores, pois não os têm.
Não obstante o excesso forense, o equívoco maior resultou da demagogia de governantes tucanos que se dizem mais gestores do que políticos.
Como administrador, aliás, Alckmin de fato mantém em ordem as contas estaduais. Além desse básico, porém, não vai: as linhas de metrô crescem na velocidade inversa da influência de facções criminosas dentro dos presídios paulistas, enquanto a qualidade da educação permanece indigna de um Estado com os recursos de São Paulo.
Quanto a Doria, é possível que supere esse período de deslumbramento. Tem ainda a seu favor o fato de ter nomeado assessores qualificados, de ter espírito transformador e de lançar sem receio ideias novas para a gestão da cidade.
No entanto, deve tomar logo consciência de que a administração da cidade não se resolve como um encontro motivacional. Entre outras qualidades, um bom administrador estuda os assuntos sob sua alçada, planeja, procura antever consequências de seus atos e trata de evitar conflitos ou restringir-se ao bom combate.
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