• Taxa. Decisão do Comitê de Política Monetária surpreendeu a maior parte do mercado financeiro, que esperava um corte de 0,5 ponto porcentual: justificativa do BC foi de que inflação mais controlada e economia fraca permitiam redução mais agressiva
BC acelera corte dos juros e reduz Selic em 0,75 ponto, para 13% ao ano
Fabrício de Castro Fernando Nakagawa | O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O Banco Central decidiu acelerar o ritmo de corte da taxa de juros, surpreendendo a maior parte do mercado. O banco anunciou ontem uma redução de 0,75 ponto porcentual na Selic, a taxa básica de juros, que passou de 13,75% para 13% ao ano. A aposta majoritária era de que o corte seria de 0,50 ponto porcentual. Foi a primeira vez desde abril de 2012 que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu a taxa em 0,75 ponto.
A decisão foi tomada no mesmo dia em que o IBGE informou que a inflação oficial do País encerrou 2016 dentro da meta. No comunicado publicado após a reunião, o comitê informou que seus diretores chegaram a discutir a possibilidade de uma redução de apenas meio ponto porcentual, como boa parte do mercado financeiro esperava.
No entanto, a avaliação foi de que o cenário atual da economia já permitia uma redução mais agressiva. Isso porque o processo de queda da inflação está mais disseminado entre os vários produtos de consumo e a atividade econômica está pior que o esperado.
Nas projeções oficiais, o Banco Central já prevê inflação em torno de 4,0% em 2017 e 3,4% em 2018. Além disso, o BC repetiu a avaliação de que as reformas e ajustes na economia podem “ocorrer de forma mais célere que o antecipado”.
A queda mais agressiva do juro era uma bandeira de boa parte do governo e também da iniciativa privada, que veem a redução como um atalho para a retomada do crescimento. Por meio do porta-voz Alexandre Parola, o presidente Michel Temer expressou sua “satisfação” com a decisão dos diretores do BC. “A decisão do Banco Central, que delibera de forma independente e com base em elementos exclusivamente técnicos, respalda a convicção do presidente Michel Temer no sentido de que estão dados os elementos para uma retomada do crescimento econômico e da criação de novos empregos ao longo do ano.”
Cautela. No mercado financeiro, conforme levantamento do Projeções Broadcast feito com 71 instituições, 65 projetavam corte de 0,50 ponto porcentual. Apenas 5 citavam redução de 0,75 ponto e 1 esperava 0,25 de baixa.
Essa cautela dos profissionais do mercado era justificada pelas reuniões anteriores do Copom, de outubro e novembro, quando a instituição limitou-se a reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual. Em meio ao desemprego de cerca de 12% e com o País em recessão há dois anos, a postura do BC passou a ser duramente criticada em dezembro. Na época, o presidente do banco, Ilan Goldfajn, saiu em defesa da instituição e sinalizou que, em janeiro, o corte da Selic seria maior que o 0,25 ponto porcentual dos encontros anteriores. Em função disso, a maior parte dos economistas e dos investidores se posicionou à espera de meio ponto porcentual de corte. Uma parcela menor citava a possibilidade de redução de 0,75 ponto porcentual.
Apesar de observar o movimento, o BC, em suas comunicações oficiais, evitava comentar a possibilidade de uma redução maior da Selic – o que de fato ocorreu. Daí a surpresa de muitos economistas. “Não tenho críticas ao corte de 0,75 ponto porcentual, havia espaço para isso, porque a inflação está muito melhor”, disse o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks. “Entretanto, o BC deveria ter sinalizado melhor que poderia ser mais agressivo.”
Para o economista Rogério Mori, professor da FGV, os indicadores de inflação e de atividade abriram espaço para o corte maior dos juros. “Quem se posicionou para corte de 0,50 ponto vai chiar, o que é natural, mas acho que os indicadores sancionaram uma redução de 0,75 ponto”, afirmou. / Colaboraram Rafael Moraes Moura, Álvaro Campos e André Ítalo Rocha
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