O que um ano atrás poucos achavam provável acontecerá na semana que vem: o empresário Donald John Trump, de 70 anos, será empossado como o 45º presidente dos Estados Unidos. Para a economia brasileira, a nova gestão na Casa Branca traz algumas oportunidades e muitos riscos e incertezas. É preciso estar preparado.
A despeito da baixa estima por Trump fora e dentro dos EUA (é preciso lembrar que ele ficou quase 3 milhões de votos atrás de Hillary na votação popular), o seu governo merece ser julgado pelo que fará, e não pelo que o presidente eleito disse ou vem dizendo.
É claro que, em se tratando do líder da maior potência global, as palavras, ou tuítes, contam, e muito. A Ford cancelou um projeto de US$ 1,6 bilhão no México em meio à forte retórica protecionista. Mas a partir de 20 de janeiro Trump estará governando, e não só tuitando.
O Brasil não está, nem estará, entre as prioridades do governo americano. E parece ser desimportante para Trump. O país quase não foi citado por ele até agora, a não ser por breve menção a um grupo de emergentes que estariam roubando empregos dos americanos. O presidente Michel Temer foi um dos últimos líderes do G-20 a falar com Trump, em 13 de dezembro, mais de um mês após as eleições.
Para um país como o Brasil, imerso numa profunda e prolongada crise econômica, é fundamental avaliar e, na medida do possível, se preparar para os impactos que devem advir da nova gestão nos EUA. E não serão poucos.
Infelizmente, as últimas semanas antes da posse foram marcadas mais pelo debate em torno da possível interferência da Rússia no processo eleitoral americano e dos conflitos de interesse envolvendo os negócios de Trump. Foi o que ocorreu na entrevista coletiva de ontem, a primeira desde a eleição presidencial.
Ainda que Trump tenha sido exíguo em detalhes, o núcleo da sua política econômica, a "Trumponomics", parece ser: 1- um corte agressivo de impostos para empresas e pessoas físicas; 2- um programa talvez trilionário de investimentos públicos em infraestrutura; 3- um amplo programa de desregulamentação e de privatização; 4- uma agenda comercial protecionista, com pressão por produção interna, revisão de acordos existentes e talvez tarifas punitivas a produtos estrangeiros.
A magnitude desse plano dependerá de negociações complexas com o Congresso dos EUA, com o setor privado e com parceiros comerciais. Apesar dessas incertezas, a onda de otimismo gerada pelo efeito Trump na economia vem entusiasmando os mercados e elevando as expectativas quanto ao crescimento dos EUA neste ano e no próximo.
Para o Brasil, o efeito mais imediato da Trumponomics possivelmente se dará em termos de juros e câmbio. Analistas já acham possível que o Fed acelere a alta de suas taxas de juros neste ano, diante de um cenário de expansão do crescimento e do emprego nos EUA. Além dessas taxas de curto prazo, a expectativa de maior endividamento dos EUA já vem elevando nos últimos meses as taxas de juros de longo prazo. Isso significa para o Brasil custos maiores de captação no exterior e de rolagem de dívida em moeda estrangeira.
No câmbio, a moeda americana vem se valorizando, desde a eleição de Trump, em relação às principais moedas. Ganhou cerca de 20% frente ao peso mexicano, 10% frente ao iene, quase isso em relação ao euro, 5% frente ao dólar australiano, 3,5% ante o peso chileno, 2% sobre o yuan chinês. Mas o dólar ficou estável frente ao real. Isso significa que o Brasil está perdendo competitividade em termos globais.
Após o que houve com a Ford no México, é possível que grandes multinacionais reavaliem os seus planos de investimentos no exterior, ainda que o Brasil não seja uma plataforma preferencial de exportação para os EUA.
O comércio bilateral pode ser afetado de vários modos. Uma aceleração do crescimento nos EUA favoreceria as exportações brasileiras. Já medidas protecionistas e confrontos com parceiros importantes teriam o potencial de prejudicar todo o fluxo comercial mundial. Por outro lado, a provável desistência dos EUA de fechar novos acordos comerciais com a União Europeia e a Ásia minimizam o risco de um isolamento comercial ainda maior do Brasil.
A alta dos juros nos EUA deverá dificultar a calibragem da política monetária brasileira. E a alta global do dólar em algum momento se refletirá numa desvalorização do real. De resto, cabe ao Brasil adotar urgentemente reformas que reforcem sua competitividade e reduzam a vulnerabilidade representada pelo enorme déficit fiscal. Em tempos de incertezas, é sempre aconselhável minimizar os riscos.
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