Enquanto os setores de esquerda aguardam o julgamento em segunda instância de seu mais forte candidato potencial à Presidência da República, mantêm-se em aberto as especulações sobre quem poderia representar a centro-direita na disputa que se aproxima.
Em entrevista a esta Folha, o presidente licenciado do PSD, Gilberto Kassab, reiterou com a devida cautela a opção de seu partido pelo nome do atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Mas, conformou-se o ex-prefeito paulistano, "pode ser o [Geraldo] Alckmin" –a hipótese de apoiar o governador tucano de São Paulo destoa de tese oficial do governismo de lançar candidato próprio.
Do campo do PSDB vieram sinais em sentido inverso. Com sua conhecida independência de pensamento, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso temperou de ceticismo o apoio que lhe caberia dirigir ao correligionário.
Espera-se, disse FHC ao jornal "O Estado de S. Paulo", que um candidato de seu partido seja capaz de aglutinar os setores de centro. Porém, "se houver outro que aglutine", continuou, "fazer o quê?"
Enunciam-se assim, o que não é inédito, indisfarçáveis dúvidas quanto à capacidade mobilizadora de um político tão discreto e morno quanto Geraldo Alckmin.
Se se trata de superar, como tem sido afirmado, o quadro de radicalização e intolerância que ameaçou se configurar durante a crise do impeachment, o perfil acinzentado do governador paulista poderia, em tese, funcionar como um capital político.
O risco, naturalmente, é que forças contrárias ao retorno lulista pulverizem suas preferências ou se vejam representadas com mais ênfase na figura de demagogos.
É fato, ademais, que em relevantes setores do empresariado, da academia e da opinião pública, a política econômica do governo Michel Temer (MDB) conta, em linhas gerais, com nítida aprovação.
Reconhece-se amplamente a necessidade de reduzir os gastos públicos e de solucionar o impasse da Previdência. A atual gestão vai também registrando resultados favoráveis na retomada das atividades, do consumo e dos investimentos, sem contar vitórias expressivas no controle da inflação.
Qualquer identificação com Temer parece, contudo, ser tóxica em termos eleitorais. O ministro da Fazenda ressente-se disso; já os tucanos falham em assumir o que intimamente gostariam de aprovar.
Em épocas mais sangrentas, um líder radical –Vladimir Lênin–impôs seu dogma num panfleto intitulado "Que Fazer?"
Vivem-se, felizmente, outros tempos. Mas, quando o lema se inverte, para se tornar "Fazer o Quê?", a névoa e as nuvens cinzentas parecem espessas demais.
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