- Folha de S. Paulo
Há saborosas inconfidências trazidas à tona pelo jornalista Michael Wolff em seu bombástico livro sobre a Casa Branca de Donald Trump, a maioria delas crível.
O fato de o presidente ter tentado barrar a publicação só reforça esse caráter, mesmo que a prudência recomende um bom distanciamento ao ler esse tipo de obra e que o autor faça ressalvas sobre o que escreveu.
Isso dito, verdadeira ou não, a revelação de que Trump nunca acreditou na vitória e via na campanha um brilhante veículo para projetar seu ego, só para o desespero generalizado quando Hillary Clinton emergiu derrotada, é bastante coerente com tudo o que ocorreu na Presidência americana nos meses seguintes.
Impossível não pensar no Brasil. Olhando para trás, essa narrativa se encaixa à perfeição com o que vários auxiliares próximos de Marina Silva descreviam no tão distante 2014.
A então candidata a presidente chegou a liderar a corrida antes de ser destroçada pela campanha do PT.
Segundo aliados, ela contemplava horrorizada a ideia de ter de governar de fato. Ou seja, lidar com o Congresso, com o Leviatã estatal.
Perder, dizem, foi um alívio, tanto que essas mesmas pessoas não apostam muito nas chances de ela decolar em 2018.
Hoje, a comparação ululante é com a candidatura Jair Bolsonaro. O voluntarismo esposado por seus apoiadores duraria quanto tempo numa altamente improvável vitória?
Quem toparia fazer parte de seu governo, fora os Maruns de sempre no Congresso e alguns militares de pijama sequiosos o suficiente de poder para aceitar receber ordens de alguém que quebrou a hierarquia?
O que Wolff descreve é a síndrome daquele cachorro que corre atrás de carros com a vontade de um tiranossauro, só para ser flagrado como o fofo schnauzer que é ao atingir seu objetivo e não saber o que fazer.
Ele está lá por um motivo, que não é ganhar. Se bolsonaristas insistem em ter Trump como exemplo, talvez esse seja o real paralelo possível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário