Por Humberto Saccomandi | Valor Econômico
SÃO PAULO - Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, e Bill Clinton, dos Estados Unidos, tentaram passar uma mensagem de otimismo nesta sexta-feira (21) em São Paulo, mesmo ressaltando os muitos desafios no mundo, às vésperas das eleições no país. Os dois ex-presidentes participaram do evento Expert 2018, organizado pela XP Investimentos.
Eles concordaram que o desafio mais urgente é fazer a política reconquistar a confiança da sociedade. Ao final, FHC afirmou que o que mais o preocupa no momento "é a irracionalidade e o ódio que separam". "Precisamos nos unir", disse, ecoando a carta aberta que ele divulgou na quinta (20), propondo uma união das forças políticas contra os extremismos.
Clinton destacou que há, no mundo, uma reação contrária à globalização, "alimentada principalmente por parte de pessoas que se sentem deixadas para trás economicamente". Parte da insatisfação que vem se manifestando nesta campanha eleitoral no Brasil faz parte desse contexto.
"Mas não acredito que podemos reverter a globalização. Precisamos enfrentar os seus problemas", disse Clinton, que governou os EUA de 1993 a 2001. Isso significa identificar e formular políticas para lidar com o que está causando esse fenômeno de “Brexit" global, isto é, uma crescente tendência de isolacionismo, que ele chamou de "tribalismo negativo", de separação entre os grupos nas sociedades.
Nesse contexto de "crise global de representatividade", FHC ressaltou que "o sistema político brasileiro foi minado pelos escândalos, pela corrupção", que a democracia no país vem sendo "financiada por um sistema mais ou menos corrupto" e que isso gerou uma "quebra na confiança" entre a sociedade e seus representantes.
"Não se pode preservar a democracia se a confiança acaba", complementou Clinton. Para FHC, a política só vai recuperar essa confiança dialogando com a sociedade
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"Utopia viável"
"É um momento em que você não vai para a frente se não tiver uma utopia", disse FHC. Mas "precisa ser uma utopia viável", afirmou, reconhecendo que se trata de uma contradição.
Ambos insistiram que a solução para o Brasil passa pelo combate à desigualdade. "A desigualdade constrange no Brasil, pois é gritante", disse FHC. "A desigualdade é um impedimento ao crescimento do Brasil. Combater a desigualdade traria benefício econômico", completou Clinton.
O presidente americano repetiu várias vezes que ele acha que poucos países no mundo têm as capacidades que tem o Brasil, tanto em termos de recursos naturais como de capital humano.
"O Brasil não deveria olhar a si mesmo sempre de modo negativo. É um país abençoado", disse Clinton.
Trump
O ex-presidente americano evitou criticar abertamente o atual governo dos EUA, de Donald Trump, mas deu algumas indiretas.
Sobre a guerra comercial iniciada pelo mandatário americano, Clinton disse que acordos comercias sempre podem ser melhorados e que a China tem muito a melhorar, mas rejeitou o mantra de Trump de culpar o comércio pelos problemas dos EUA.
"Não podemos dizer que fomos prejudicados [pelo comércio] num período em que a prosperidade [nos EUA] cresceu." Clinton assinou o Tratado de Livre Comércio da América do Norte, o Nafta, chamado por Trump de o pior acordo comercial do mundo.
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