Com Doria, PSDB corre o risco de perder a longa hegemonia no estado
Não é apenas a eleição presidencial, a julgar pelo mais recente Datafolha, que ameaça quebrar os padrões de disputa das últimas décadas. A corrida pelo governo do estado mais rico do país também.
Em 1994 Mário Covas conquistava para o PSDB o Palácio dos Bandeirantes. Os tucanos daquela feita encerraram o domínio de oito anos da corrente peemedebista liderada por Orestes Quércia e iniciaram uma das mais longas hegemonias da história nacional. Venceram as cinco eleições seguintes —as três últimas no primeiro turno.
Essa fortaleza correu mais riscos de ser açambarcada em 1998, numa disputa duríssima entre Covas e Paulo Maluf, no então PPB. Parece que um confronto no mínimo tão difícil para o PSDB quanto foi aquele vai se configurando agora.
A dianteira, de acordo com o Datafolha, do situacionista João Doria (26%) para o emedebista Paulo Skaf (22%) não é suficiente para assegurar o favoritismo do tucano num provável segundo turno.
Nessa simulação, o ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, com 40%, supera o rival tucano pela margem de quatro pontos percentuais, no limite da margem de erro.
Doria, que conseguiu a façanha de se eleger prefeito no primeiro turno de 2016 ancorado no discurso da novidade política, está claramente sendo punido por ter abandonado o cargo apenas 15 meses depois da posse. Rejeitam o seu nome 47% dos eleitores da capital.
Como efeito provável dessa grande repulsa, Skaf bateria Doria na cidade de São Paulo com 18 pontos percentuais de folga se o segundo turno fosse hoje. A desvantagem do tucano diminui conforme se caminha para o interior, onde a preferência por Skaf é ligeiramente inferior à pelo adversário.
É curioso, aliás, notar o comportamento do eleitorado interiorano paulista. Nesse próspero conjunto de municípios, que abrange pouco mais da metade dos cidadãos aptos ao voto no estado, o sentimento antipetista prevalece quando o tema é a eleição presidencial.
Se Jair Bolsonaro (PSL) disputasse hoje o segundo turno contra Fernando Haddad (PT), abriria 14 pontos no interior de São Paulo. O ex-prefeito petista reduz para cinco pontos sua inferioridade no estado por ser o preferido na capital e na região metropolitana.
Em suma, o paulista do interior tende a preferir Bolsonaro a Haddad, na disputa presidencial, e Doria a Skaf na estadual. O padrão se inverte para o eleitor da capital.
A resultante desse jogo de espelhos, num oceano de 33 milhões de votos, vai determinar a extensão, para 28 anos, da hegemonia tucana ou o ocaso de um extenso ciclo partidário no estado. Além disso, vai propiciar a um dos presidenciáveis um valioso impulso na corrida rumo ao Palácio do Planalto.
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