Com segunda maior rejeição, candidata da Rede perde votos às vésperas da eleição
Marianna Holanda | O Estado de S.Paulo
Pela primeira vez com seu próprio partido, a candidata da Rede, Marina Silva, chega a duas semanas do primeiro turno das eleições 2018 com o risco de ter metade – ou menos – dos votos que conquistou nos pleitos anteriores, se a situação que as pesquisas projetam se concretizar. A ex-ministra perdeu metade das intenções de voto que tinha (12% para 6%) e despencou em quase todos os cenários, conforme o mais recente levantamento do Ibope.
As explicações, segundo o Estado apurou com a campanha e cientistas políticos, vão da falta de estrutura da Rede até o posicionamento pouco incisivo da candidata. A hipótese mais aventada é a de que Marina é considerada como uma “ótima segunda opção” na hora do voto.
Marina não apenas não conseguiu ampliar seu eleitorado como perdeu capital eleitoral e apresenta a segunda maior rejeição dentre os candidatos (26%), atrás só do candidato do PSL, Jair Bolsonaro (42%). O que dificulta uma reação é que a rejeição não está concentrada em um único setor, segue a mesma média em todos.
Alfredo Sirkis, ex-coordenador de campanha de Marina em 2010, diz que ela pode ter um papel fundamental no segundo turno. “Seja quem for para o segundo turno, a Marina, como grande líder da sociedade civil, vai jogar um papel importante para derrotar Bolsonaro.”
Aliados tendem a diferenciar as dificuldades da candidata nesta eleição da anterior, mas admitem que neste ano a queda é mais preocupante. Há oito anos, sabiam que a probabilidade de ela ser eleita era baixa e que o importante era mostrar uma alternativa à polarização. Já em 2014, além de ela não ter se preparado para ser candidata a presidente, a falta de intimidade com uma estrutura de campanha e de partido (PSB) que não foram feitas para ela teriam afetado seu desempenho.
Neste ano, a ex-senadora disputa pela primeira vez com o seu partido, criado há três anos, com pouca estrutura e recursos. No período, elegeu seis prefeitos, mas perdeu importantes quadros e parlamentares, o que criou um problema a mais: ultrapassar a cláusula de barreira. Dentro do partido, algumas pessoas defendiam que Marina não se lançasse neste ano, para focarem em fortalecer a sigla. A tendência foi minoritária. Como resultado, até sexta-feira, 21, a campanha de Marina foi a que mais recebeu repasses do partido, proporcionalmente. Mais da metade do fundo eleitoral foi destinado à disputa pelo Planalto.
Auxiliares defendem a tese de que o patamar de 12% refletia a incerteza em torno da candidatura petista e que a corrida eleitoral começou apenas quando Fernando Haddad virou cabeça de chapa do PT.
Segundo um aliado de Marina, ela desidrata neste cenário, porque é o segundo voto de muita gente. Uma explicação, diz, é que a sociedade polarizada está cada vez mais exigindo posicionamentos firmes e Marina não teria esse perfil.
Professora de ciência política da Unicamp, Andreia Freitas fala em efeito de “contágio”. “Quando Marina cai nas pesquisas, os eleitores começam a desembarcar porque acham que ela não é mais competitiva.”
Em 2010, candidata surgiu como 3ª via
Em 2010, Marina, então no PV, despontou como a novidade e a terceira via nas eleições, alcançando 19,6 milhões de votos ou 20% do eleitorado. Quatro anos depois, conquistou mais 2 milhões de eleitores.
Seu crescimento foi tamanho que, em determinado momento, empatou tecnicamente com Dilma Rousseff (PT), que disputava reeleição. Os 33% que conquistou naquela semana foi o ápice, até hoje, de desempenho de Marina em todas as campanhas. Naquele ano, foi caindo pesquisa após pesquisa, até terminar o primeiro turno com 21%.
Colaboraram Daniel Bramatti e Carla Bridi
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