Compressão
dos prêmios de risco salvou a sinalização do Banco Central de 45 dias atrás
A onda de apetite a riscos que vem varrendo os mercados globais desde o início de novembro, levando a uma queda do dólar ante as principais moedas internacionais, incluindo o real brasileiro, e a uma disparada nas Bolsas de Valores, deu um alívio inesperado e bem-vindo ao Copom.
Na
sua decisão de hoje, o Copom deve não somente manter inalterada a taxa Selic em 2% como também seguir prometendo que os juros
vão permanecer nesse nível por um período prolongado, conforme o seu
instrumento mais recente de política monetária: a prescrição futura, ou
“forward guidance”, no jargão financeiro em inglês.
Com o ambiente externo favorável, a redução de prêmios de risco exigidos pelos investidores para os ativos brasileiros acabou por validar a sinalização do Copom na sua última reunião, em outubro, considerada mais suave do que o esperado pelo mercado, especialmente em relação ao repique recente da inflação e ao balanço de riscos em torno das incertezas fiscais.
Desde
novembro, os investidores estão fechando os olhos para a segunda onda da
pandemia de coronavírus, que vem atingindo com força os Estados Unidos e a Europa,
e se concentrando no noticiário animador das vacinas contra a covid-19, com a
perspectiva de uma retomada vigorosa da economia mundial ao longo de 2021.
Também
após a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais americanas, o
mercado passou a ficar mais otimista com a aprovação de um novo pacote de
socorro fiscal nos EUA, o que aliviaria o impacto de novas medidas restritivas
para conter o avanço do coronavírus.
No
Brasil, as últimas declarações do governo, em particular do presidente Jair
Bolsonaro, de não prorrogar o auxílio emergencial e de manter o teto
de gastos intacto em 2021, deram maior confiança aos investidores de que, pelo
menos por enquanto, o regime fiscal não será quebrado.
Diante
desse quadro benigno no exterior e internamente, o dólar caiu 6,8% e o Ibovespa disparou 15,90%. Na última reunião do Copom, em
28 de outubro, a moeda americana havia fechado em R$ 5,7619. Na manhã desta
terça-feira, o dólar chegou a ser negociado abaixo de R$ 5,10, acumulando uma
perda de 4,5% em dezembro. E o Ibovespa registrou um ganho adicional de 4,3%
nos primeiros cinco pregões deste mês. Sem falar no recuo das taxas dos
contratos futuros de juros.
É
bom lembrar que analistas e investidores vêm ficando mais desconfortáveis com a
prescrição futura do Copom, de manter os juros inalterados por período
prolongado, diante das surpresas para cima da inflação e do aumento das
expectativas inflacionárias. Aliás, a aceleração da inflação nos últimos dois
meses pegou o mercado de surpresa.
Ontem,
por exemplo, o IBGE divulgou que o IPCA de novembro subiu 0,89%, ficando acima do teto das
estimativas de analistas, que previam uma alta entre 0,70% e 0,85%. Em 12
meses, a inflação acumulada foi de 4,31%, enquanto a meta deste ano é de 4%. Na
mais recente pesquisa Focus, as projeções para o IPCA em 2020 subiram para
4,21%, mas as de 2021 estão em 3,34%, abaixo da meta de inflação de 2021, de
3,75%.
Na
sua última reunião, o Copom traçou a seguinte narrativa: o recente choque de
preços, em particular dos alimentos, é transitório e o regime fiscal não se
alterou. Desde então, essa narrativa foi duramente questionada pelos analistas,
muitos dos quais duvidaram que o choque na inflação era transitório,
especialmente em razão da pressão do dólar e de uma contaminação nos índices ao
consumidor da alta nos preços no atacado, que vêm rodando acima de 20% em 12
meses.
De
fato, o Copom chegou a ficar contra a parede e ter a prescrição futura
seriamente questionada, com alguns analistas importantes apostando em uma alta
dos juros mais cedo do que o previsto. De certa maneira, a compressão dos
prêmios de risco no Brasil salvou
a sinalização do Copom de 45 dias atrás.
Na reunião de hoje, o Copom não mudará absolutamente nada da sua mensagem anterior, atualizando apenas as suas projeções de inflação deste ano e de 2021. Todavia, as incertezas fiscais permanecem. O Congresso nem votou o Orçamento de 2021. E o teto ainda não está a salvo. Mas isso é história para a reunião do Copom do mês que vem.
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