Eduardo
Bolsonaro tem razão em andar armado. Com tanta bala à solta ninguém está a
salvo
Há
anos fui abraçar um amigo, amado por muitos, e senti sob o casaco algo sólido
na sua cintura. Uma arma, claro, e recolhi a mão. Ele não percebeu minha
repulsa, mas fiquei triste. Por que alguém iria armado a um encontro de pessoas
que se estimavam? Temia ser atacado, precisaria se defender e, talvez, reagir
atirando? O que teria feito para isso? E só então o travo se dissipou. O objeto
era um celular.
Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, deixou-se fotografar há dias com pai e irmãos no gabinete presidencial com um trabuco no cinto. O Planalto tem segurança própria, donde ninguém deveria sentir-se em perigo. Mas, conhecendo bem o governo de que faz parte, Eduardo Bolsonaro está atento. Com a quantidade de armas de fogo em mãos de particulares no Distrito Federal, nem o palácio é seguro. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o registro de armas no DF cresceu 539% em 2019, e um em cada 11 de seus cidadãos anda armado —sem contar o mercado ilegal.
Para
sorte dos Bolsonaros, muitos dos brasileiros armados são seus amigos. Como a
polícia acaba de descobrir, Ronnie Lessa, acusado de assassinar Marielle Franco
e ex-vizinho do presidente num condomínio na Barra, comprava ferramentas pela
internet para a montagem de fuzis de guerra. Imagino que, em seus churrascos,
eles trocassem dicas sobre balas dum dum e silenciadores.
Bolsonaro
oficializou o faroeste. Um decreto seu dificultou o rastreamento das armas em
circulação. Com isso, o armamento apreendido diminuiu e o que volta para o
crime aumentou. Qualquer um compra agora 300 munições por mês —eram 50 por ano
até há pouco. Pessoas apontam armas no nariz uns dos outros e bandos praticam
assaltos de cinema. Aumentou o feminicídio. Bandidos e policiais continuam
matando e morrendo e, cada vez mais, sobram balas para as crianças.
Eduardo Bolsonaro tem razão em andar prevenido.
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