O
jornalismo precisa cuidado com o chamado 'outro lado' em controvérsias
científicas.
Caro
leitor, como você sabe que a Terra é
redonda? Bem, você só sabe disso porque alguém lhe contou e você
confia nessa pessoa.
Com
efeito, nossa experiência do dia a dia é muito mais sugestiva de um planeta
achatado do que de um arredondado. Não sentimos a esfericidade em nenhum de
nossos deslocamentos ordinários. Só acreditamos na redondez porque foi o que
nossos professores nos ensinaram, e essa é uma crença que a comunidade em geral
sanciona.
Esse mecanismo de validação social se aplica não só ao formato do planeta mas também a quase todas as "verdades científicas". É um bônus (não precisamos refazer todas as descobertas de nossos antecessores) e um ônus (de vez em quando, ideias falsas, como a da existência de uma planta comestível com aspecto, cheiro e gosto de cordeiro, são aceitas como verdadeiras por séculos).
Os
filósofos da ciência Cailin O'Connor e James Owen Weatherall exploram esse e
outros aspectos da epistemologia em "The
Misinformation Age" (a era da desinformação) para mostrar os
riscos que corremos com as "fake news" e outras modalidades de fraude
às quais se empresta credibilidade social. A realidade fática, afinal, existe
e, cedo ou tarde, cobra seu preço. Não importa se você acredita ou não em
mudança climática, o planeta está ficando mais quente e isso gera repercussões
concretas.
É
uma obra oportuna, gostosa de ler e cheia de curiosidades, como a história da
planta-cordeiro. Igualmente interessante, a dupla não se limita a descrever os
muitos meios pelos quais as coisas podem desandar. Também faz sugestões de
medidas simples para minorar o problema.
Um
exemplo afeito ao jornalismo: é preciso cuidado com o tratamento dado ao
chamado "outro lado" em controvérsias científicas. Ao dar
visibilidade a uma posição que talvez seja francamente minoritária entre
cientistas, a imprensa pode estar contribuindo para as narrativas falsas.
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