Os
partidos progressistas não sabem para onde ir
Em
recente entrevista, o ex-presidente Fernando Henrique disse temer que o PSDB
esteja em decadência. Na verdade, seu partido está desorientado, tanto quanto
os demais partidos democratas progressistas, de centro ou de esquerda. Eles não
entendem, ou não aceitam, que suas ideias e propostas perderam prazo de
validade diante das mudanças que ocorrem na história; ou tentam se adaptar de
maneira incompleta.
Percebem
que o Estado tem limitações de recursos, mas não sabem como atender às
necessidades sociais sem gastar além dos limites responsáveis. Não sabem como
colocar a solidariedade necessária dentro da aritmética possível.
Descobriram os limites ecológicos ao crescimento, mas não conseguem oferecer um tipo de bem-estar que substitua a ânsia pelo consumo. Não conseguem colocar o PIB dentro da ecologia.
Entendem
que uma das causas de nosso atraso está no desprezo à educação de base com
qualidade para todos. Mas não assumem que a educação de qualidade para todos é
mais do que o direito de cada pessoa, é o vetor do progresso econômico e da
justiça social. Não acreditam, nem sabem como fazer para que o Brasil tenha uma
educação tão boa quanto às melhores do mundo e que o filho do mais pobre estude
em escola com a qualidade do filho do mais rico.
Perceberam
que os partidos já não existem e as siglas pouco significam, mas não sabem que
tipo de organização colocar no lugar. Nem como fazer política nos tempos das
comunicações de massa.
Se
surpreendem que perdemos velocidade no ritmo de crescimento, mas não entendem
ainda, ou se assustam, com a ideia de que o problema não é a velocidade do
progresso, é do caminho escolhido para ele. O problema não está na saída da
Ford, mas na opção pela indústria automobilística como carro chefe da economia.
Continuam
nacionalistas em um tempo de globalismo, mas não sabem como tirar proveito da
globalização e evitar os problemas do livre comércio sem cair no protecionismo.
Os
partidos progressistas estão desorientados do ponto de vista filosófico e em
consequência decadentes do ponto de vista político e eleitoral, seu
progressismo tem a cara, a cor e o cheiro do passado. Não veem a realidade em
toda sua complexidade esférica, global e dinâmica. São partidos terracubistas.
Os conservadores levam vantagem, porque o passado e o reacionarismo é a “praia”
deles. A nostalgia é uma qualidade no discurso da direita, que defende “grande
outra vez”; mas a nostalgia é um pecado entre os progressistas, que deveriam
propor “melhor em frente”. Os conservadores não se desorientam porque desejam
ficar parados; os progressistas se desorientam porque desejam avançar, mas
olhando para trás, sem bússola, sem estradas e no meio do terremoto civilizatório.
Os
progressistas não aceitam a Terra Plana, mas ainda não têm propostas pela a
Terra Global no tempo da crise ecológica, da robótica e do esgotamento do
Estado. Felizmente, a percepção de que a decadência é uma desorientação,
possibilita o surgimento de mapas para futuros progressistas.
*Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador
Nenhum comentário:
Postar um comentário