Vítimas
potenciais da Covid podem estar vacinadas até maio, economia despiora
A
vacina do Brasil depende da boa vontade da China e da Índia. Ainda
assim, não é descabido estimar que até meados de abril seja possível vacinar
aqueles grupos de pessoas em que morrem 75% das vítimas de Covid-19 neste país.
Os
adversários de Jair Bolsonaro deveriam prestar atenção nessa hipótese razoável,
assim como deveriam moderar ilusões sobre uma catástrofe econômica que estaria
para triturar o prestígio presidencial já em 2021.
Em
primeiro lugar, as vacinas. Lá
pela metade de abril, talvez tenha sido possível vacinar uns 38 milhões de
pessoas, aquelas de 60 anos ou mais, pessoal da saúde e indígenas. É
quase um quarto da população com mais de 18 anos.
A
conta considera o limite inferior da produção do Butantan, o cronograma que a
Fiocruz divulgou na sexta-feira (5), as doses já disponíveis e o 1,6 milhão de
doses da Covax, chutando um desperdício de 5%, otimista. Podem vir mais doses:
mais da Covax ou mais 28 milhões das vacinas russa e indiana que o governo diz
negociar.
Se os insumos empacarem de novo na China, será mesmo um desastre. Pode ser também que abril esteja muito longe, revoltando os três quartos sem vacina até lá. No entanto, a perspectiva e o fato da redução do número de mortes devem causar alívio social e econômico. De resto, a vacinação continuará a partir de maio, quando 90% das vítimas potenciais da Covid podem estar imunizadas.
O
que se vai pensar desse copo de vacina (meio cheio ou vazio) depende da
política de governo e da oposição. Bolsonaro sabotou a vacina, mas pode virar
esse jogo com vacinação e propaganda em massa.
Na
economia, o primeiro trimestre será de estagnação ou de ligeira retração.
Haveria recuperação a partir de abril, a depender, claro, de vacinação e das
variantes do vírus —ainda não sabemos quão pestilentas são, se vão se espalhar,
se vão driblar as vacinas.
Por
ora, a expectativa é de crescimento de 3,5% em 2021, o que, na prática,
significa quase estagnação em relação ao trimestre final de 2020, mas melhora
em relação à média do ano passado. Construção civil, agronegócio muito bem e
reposição de estoques devem dar um tapa no desempenho do PIB. Sim, é tudo meio
uma porcaria sem futuro, mas isso não quer dizer desastre imediato.
Nos
últimos dias, se disse por aí que “o mercado” ficou animadinho com a vitória do
centrão e a expectativa renovada de “reformas”. É uma bobice. A Bolsa está
animada, embora nem tanto, por causa de juros baixos urbi et orbi, commodities
em alta e vacinas. A expectativa básica da praça é que não derrubem o teto de
gastos. O resto é meio lucro.
Algum
resto deve vir. O centrão não quer apenas rapar cargos e emendas. Quer ampliar
bancadas e ficar no poder depois de 2022. Pode jogar Bolsonaro do trem se a
popularidade dele for para o vinagre, mas não deve explodir a Maria Fumaça dos
ovos de ouro. Mas esse é assunto para outro dia.
Haverá
mais miseráveis, mas um país selvagem como o Brasil pode não ligar muito para
os caídos. Com 230 mil mortos de Covid e outros horrores, cerca de 60% do
eleitorado acha que o governo é “ótimo/bom” ou “regular”. Além do mais, haverá
algum novo auxílio emergencial. Um fator possível de desgaste de Bolsonaro pode
ser a inflação da comida, que foi de mais de 20% em 2020 e ainda será o dobro
da inflação média neste 2021.
Quem quiser, pois, pode achar que esse nosso copo sujo pode estar meio cheio. Para que se visse o vazio do nosso abismo, seria preciso haver oposição organizada. Não havia e, agora, talvez seja difícil até colar os caquinhos que sobraram
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