Ele
promove o retorno explícito ao complexo definido por Nelson Rodrigues
Nada
mais ilustrativo dos modos de moleque com que o Brasil de Bolsonaro se
apresenta ao mundo do que um detalhe de recente reunião entre o ministro do
zero ambiente, Ricardo Salles, e a equipe de John Kerry, representante de Joe
Biden para as questões climáticas.
Segundo reportagem de Marina Dias nesta Folha, os brasileiros exibiram aos norte-americanos o slide de uma TV de cachorro, típica das nossas padarias. A imagem mostrava um vira-latas apreciando os frangos no espeto com o título: "Expectativa de pagamento". Cada ave tinha o desenho de um cifrão. Bolsonaro é isso: o retorno explícito ao complexo de vira-latas definido por Nelson Rodrigues nos anos 1950.
Acordos
diplomáticos são bons para os envolvidos quando baseados em vantagens e
respeito mútuos. O Brasil não tem um plano minimamente verossímil de combate ao
desmatamento, e os antecedentes de Bolsonaro e Salles não inspiram confiança. Para
nosso azar, é o que temos para lidar com as tensões da complexa geopolítica
atual e negociar com os Estados Unidos.
A
estratégia da dupla foi abrir as discussões pedindo dinheiro num tom que
tangencia a tentativa de extorsão e para fazer aquilo que é nossa obrigação,
conforme compromissos assumidos por governos anteriores, quando o Brasil ainda
era respeitado em fóruns internacionais: reduzir o desmatamento na maior
floresta tropical do mundo e as emissões de gases do efeito estufa.
Em rede social, Kerry indicou que os Estados Unidos esperam do Brasil resultados "tangíveis", não apenas promessas. É nesse ponto que os dois países chegam à cúpula sobre mudança climática, daqui a dois dias. A proteção ambiental demanda muito recurso. Mas dinheiro na mão de um tipo como Salles e sem contrapartidas claramente verificáveis é jogar mais gasolina no incêndio da floresta.
É reforçar as frentes de ataque de grileiros, madeireiros, garimpeiros, desmatadores. É acumpliciar-se com o crime de ecocídio.
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