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O Globo
A
Câmara dos Deputados tem uma oportunidade rara de ajudar a recolocar o Brasil
no mapa da comunidade internacional em relação à política ambiental com a
ratificação, no dia 22, o Dia da Terra, da Emenda de Kigali, um adendo ao
Protocolo de Montreal para redução do uso de substâncias com elevado potencial
de efeito estufa nas geladeiras, freezers e aparelhos de ar condicionado
vendidos no país.
Hoje, 100% do mercado japonês e a maior parte dos países europeus já adotam
fluidos refrigerantes de baixo potencial de aquecimento global. Essas
tecnologias começam a dominar outros mercados robustos, como o chinês e o
indiano. EUA e China anunciaram apoio em conjunto à Emenda de Kigali. Sua
aprovação será um aceno diplomático ao presidente dos Estados Unidos, Joe
Biden, que encaminhou ao Senado americano uma orientação por sua aprovação, e
também aos demais países da OCDE que estão entre os 119 que já aderiram à
emenda.
Biden convidou o presidente Bolsonaro e outros 39 líderes mundiais para o
encontro virtual denominado “Cúpula dos Líderes sobre o Clima”, nos dias 22 e
23 de abril, preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima, a COP26, prevista para acontecer de 1º a 12 de novembro em Glasgow, na
Escócia. A ratificação da Emenda de Kigali seria um trunfo para o governo em
relação à redução do impacto ambiental e abriria para a indústria brasileira
créditos a fundo perdido do Fundo Multilateral para implementação do Protocolo
de Montreal, estimados em US$ 100 milhões, para modernizar fábricas e gerar
empregos.
O projeto já passou por todas as comissões da Câmara, mas está parado há um
ano, sem que seja colocado para votação em plenário. Um manifesto de entidades
da indústria e de defesa da eficiência energética, de sustentabilidade e dos
direitos do consumidor foi enviado ao presidente da Câmara, deputado Arthur Lira.
Coordenador de energia e sustentabilidade do Instituto de Defesa do Consumidor
(Idec), uma das organizações signatárias do manifesto “Pela aprovação de Kigali
já!”, Clauber Leite diz que a expectativa é que a Câmara sinalize o compromisso
do país com a agenda mundial de sustentabilidade apoiando a ratificação.
Além do Idec, apoiam o manifesto entidades como a Abrava (Associação Brasileira
de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), Eletros
(Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos),
Fecomércio-SP, Centro Brasil no Clima, Climate Policy Initiative, Instituto
Ethos, entre outros. A emenda estabelece metas de redução dos gases
hidrofluorocarbonetos (HFCs) em geladeiras e aparelhos de ar-condicionado.
Os mais utilizados no Brasil são até duas mil vezes mais prejudiciais ao efeito
estufa que o dióxido de carbono. “Essa modernização permitiria que a indústria
brasileira ficasse alinhada às inovações já presentes em mercados como
norte-americano, europeu, chinês e indiano”, diz a carta.
A indústria diz que aprovação da emenda evitará que o Brasil se torne um dos
últimos destinos de aparelhos obsoletos, que aquecem o planeta e têm baixa
eficiência energética, elevando os gastos das famílias, do governo, da
indústria e das empresas em geral com a conta de luz.
O uso de aparelhos eficientes resultaria num impacto de R$ 57 bilhões no Brasil
até 2035, de acordo com um estudo do Instituto Clima e Sociedade (iCS) em
cooperação técnica com o Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL). Do
total, R$ 30 bilhões deixariam de ser gastos na geração de energia elétrica, e
outros R$ 27 bilhões seriam economizados pelos consumidores na conta de luz.
“A proteção do planeta precisa ser compatível com o desenvolvimento econômico,
e a busca pela eficiência energética e por produtos mais inteligentes é o
melhor caminho para aliar essas duas agendas fundamentais”, diz a coordenadora
da Iniciativa de Eficiência Energética do iCS, Kamyla Borges, advogada e uma
das líderes do movimento pela Emenda de Kigali.
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