CPIs
têm poder de polícia, podem fazer acareações e quebras de sigilo, convocar
ministros e toda a equipe de governo. Podem virar o Inferno de Dante
A
velha expressão lusitana que intitula a coluna vem a calhar por causa da
situação macabra em que estamos. Sua origem é do tempo em que as pessoas
morriam em casa, com um crucifixo sobre o peito e água benta junto aos pés, ou
seja, seu significado original era estar moribundo, entre a vida e a morte, mas
foi abrandado com o tempo: hoje, nos remete à situação angustiante, que, depois
de vencida nada resolve, porque outra lhe sucede. Essa é situação do presidente
Jair Bolsonaro, entre o Orçamento aprovado pelo Congresso e a CPI da Covid, que
tiram seu sono no Palácio da Alvorada.
Com o ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro tenta uma saída para não desmantelar o acordo feito com o Centrão na Câmara, que foi atropelado no Senado. O relatório do senador Marcio Bittar (MDB-AC) estourou o teto de gastos, pressionado pelo ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP). Presidente do Congresso, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) lavou as mãos sobre o Orçamento e, agora, está em apuros, porque o governo o pressiona para adiar a instalação da CPI da Covid, enquanto não se chega a um acordo em relação aos mais de R$ 20 bilhões em emendas parlamentares incluídas no Orçamento. A conta da eleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), era R$ 16 bilhões. Bolsonaro fará vetos para não correr o risco de ser acusado de irresponsabilidade fiscal, mas o alcance dos vetos depende dessas negociações.
O
esquema de trabalho da CPI, sugerido pelo senador Alessandro Vieira
(Cidadania-SE), tem a marca registrada de quem domina as investigações
criminais. CPIs têm poder de polícia, podem fazer acareações e quebras de sigilo,
convocar ministros e toda a equipe do governo. Podem virar o Inferno de Dante,
cuja imagem é a de um cone invertido, dividido em círculos. No início, no
círculo maior, estavam aqueles que não foram batizados e que não conseguiam
reconhecer o próprio erro. Seguem os círculos daqueles que pecaram por
incontinência. Esses estão no limbo.
Há um círculo para os que se entregaram à luxúria, outro para os que se deixaram dominar pela gula; em seguida, para os avaros e os pródigos (ou seja, para quem não gasta nada e para quem gasta muito); depois, um círculo para os iracundos e cheios de rancor, e por fim, para os hereges. Há círculos para: assaltantes, suicidas, blasfemos, sodomitas e usurários. Círculos para os rufiões (aqueles que exploram a prostituição), os aduladores e lisonjeadores. Para os que vendem milagres, traficantes, hipócritas, fingidos, mentirosos; para os ladrões, os falsários, os maus conselheiros e os intrigantes. Por último, os traidores. São os piores.
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