Governo
Bolsonaro compra brigas em muitas frentes
De
tanto esticar a corda e bater o pé, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara,
ganhou a batalha do Orçamento da União para este ano, entregando aos colegas o
que havia prometido – bilhões de reais para o pagamento de emendas
parlamentares e a construção de obras em seus redutos eleitorais.
Na
outra parte do prédio do Congresso onde repousa a cúpula emborcada do Senado,
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente da Casa, celebra uma vitória de pirro – o
adiamento por mais uma semana da instalação da CPI da Covid-19, que ele fez
tudo para boicotar, e o governo Bolsonaro também.
Pacheco e o governo tinham motivos diferentes para não querer a CPI. Para o governo, a exposição dos seus muitos erros no combate à pandemia só lhe fará mal em um ano em que ele só colherá más notícias. Para Pacheco, a CPI o retira por 90 dias ou mais do centro do palco da política nacional, e isso doeria em qualquer um.
O
eclipse mesmo que temporário será um tremendo incômodo para Pacheco, logo no
momento em que seu nome começa a circular em rodas de partidos como uma boa
aposta para disputar a eleição presidencial do próximo ano. Pacheco nega que
será candidato. Mas nem Lula admite ainda que será.
Só
obrigado pelo Supremo Tribunal Federal foi que Pacheco concordou com a criação
da CPI. Pensava mais em si, no seu protagonismo ameaçado do que em simplesmente
em ajudar ao governo. A esse faltou coordenação política para evitá-la. É o que
sempre lhe falta. Amargará tristes meses pela frente.
Quanto
mais Pacheco e o governo retardem a instalação da CPI, quanto mais o governo
mobilizar seus devotos para atacá-la nas redes sociais, mais despertará a
atenção em torno do que será descoberto por lá ou confirmado. O governo não
teve força sequer para emplacar aliados na presidência ou na relatoria da CPI.
O
presidente será o senador Omar Aziz (PSD-AM), tido como um político
independente. Mesmo que não seja tão independente assim, ele representa o
Estado que mais sofreu até aqui com a pandemia e aspira a governá-lo outra vez
a partir de 2022. Pessoas morreram asfixiadas por falta de oxigênio no Amazonas.
Renan
Calheiros (MDB-AL) será o relator, cargo tão ou mais importante do que o do
presidente. Os bolsonaristas têm poupado Aziz e batido duro em Renan. A
trajetória política de Renan mostra que quanto mais ele apanha, mais resiste à
pancadaria e cresce. É cascudo, como se diz, e ai de quem duvidar.
O
governo compra brigas em muitas frentes ao mesmo tempo. Quer mudar, por
exemplo, a composição do Tribunal de Contas da União que lhe é desfavorável.
Acenou para o ministro Raimundo Carreiro com uma vaga de ministro do Supremo
Tribunal Federal. O ex-presidente José Sarney convenceu-o a não aceitar.
Sarney
é do MDB de Renan. Ou melhor: Renan é do MDB de Sarney. Os dois fazem oposição
a Bolsonaro e cultivam boas relações com Lula. O MDB irá de Lula se ele for
candidato à vaga de Bolsonaro, ou irá com um candidato que o centro direita
ainda não tem. Mas com Bolsonaro não haverá negócio.
Os Evangelhos, segundo Jair Messsias Bolsonaro
O
pregador dos jardins do Palácio da Alvorada
A
Bíblia não é o forte de Jair Bolsonaro. De resto, quase nada é o forte de quem
nunca leu um livro. Talvez por isso, Bolsonaro enrolou-se ao citar a Bíblia em
uma das pregações diárias que faz aos seus devotos nos jardins do Palácio da
Alvorada.
Dessa
vez, entre os devotos, havia um pastor evangélico e um padre da Igreja Católica
que na ocasião rezou por ele e o abençoou. Os dois foram depois embora sem
entender o que o presidente quis dizer quando a certa altura de sua pregação
afirmou:
– Tem uma passagem bíblica quando Jesus dividiu o pão. Depois ele deu uma desaparecidinha, né?. Daí o povo foi atrás. Foi atrás para quê? Para mais benefícios pessoais. Fizeram a ligação com o PT dando bolsa isso, bolsa aquilo? É o ser humano que tá aí.
Se
consultasse pelo menos a Wikipédia antes de falar, Bolsonaro ficaria sabendo
que “A divisão dos pães e peixes” é o termo utilizado nos Evangelhos para
referir-se a dois milagres de Jesus. No primeiro, ele teria alimentado 5 mil
pessoas, no segundo 4 mil.
Não
há relato de uma “desaparecidinha” depois dos milagres. Quanto a irem atrás de
Jesus, as pessoas buscavam conforto espiritual e ensinamentos de um profeta que
se dizia filho de Deus, não “benefícios pessoais” como pão e peixe de graça.
Daí
porque ficou difícil para os que escutaram Bolsonaro fazer qualquer ligação com
programas do tipo Bolsa Família, do PT. Quanto ao que ele disse sobre “é o ser
humano que tá aí”, desmereceu os mais pobres que carecem de ajuda para
sobreviver.
Dos pobres, Bolsonaro quer votos, apertos de mão, fotos e distância segura.
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