Valor Econômico
Mudanças do IR podem ajudar a fortalecer JB
em 2022
No sábado passado, durante almoço com
empresários em São Paulo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez uma
confissão. "Eu pedi uma coisa e fui enganado", disse Guedes,
referindo-se ao pacote de mudanças das regras do Imposto de Renda, tanto das
empresas (IRPJ) quanto dos cidadãos (IRPF), formulado por técnicos da Receita
Federal e encaminhado ao Congresso Nacional há menos de duas semanas.
O desabafo foi uma tentativa de resposta às queixas generalizadas dos participantes do convescote, preocupados com a sanha arrecadadora do Fisco numa economia que não sabe o que é crescimento há sete anos e que, no ano corrente, esboça uma reação. Guedes contou que pediu à Receita propostas para tributar os dividendos percebidos por acionistas de empresas, atualmente isentos do pagamento de Imposto de Renda, e também para aumentar a taxação dos chamados "rentistas", pessoas que vivem de rendimento de aplicações financeiras e de cobrança de aluguel de imóvel, por exemplo.
Aos empresários, o ministro da Economia
justificou as mudanças pretendidas na legislação do IR para levantar recursos a
serem destinados à ampliação do programa Bolsa Família. Críticos veem na ideia
um viés político claro, uma vez que, em 2022, o presidente Jair Bolsonaro
disputará a reeleição.
Com sua popularidade caindo a cada pesquisa
de opinião, Bolsonaro precisará de boas notícias nos próximos meses.
A esquerda, como é de costume na Ilha de
Vera Cruz, trava neste momento luta fratricida para ver quem consegue chegar
vivo ao pleito do ano que vem; paralelamente a isso, sociais-democratas
enxergam o que ninguém vê adiante, isto é, o lançamento de um candidato
competitivo da chamada "Terceira Via", uma alternativa a Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) e a Bolsonaro, que, segundo as pesquisas deste momento,
disputarão o 2º turno da eleição em 2022.
A questão é saber de onde virão os votos
para o candidato da "Terceira Via". Bolsonaro tem cerca de 20% de
eleitores cativos. São brasileiros identificados não necessariamente com o
ideário tradicional da direita. Eles se veem mesmo é na figura do presidente,
em seus arroubos autoritários contra a imprensa, os direitos das minorias e
outros pilares de um país regido, pelo menos no papel, por um Estado
democrático de direito.
Assim como seu líder, esses eleitores não
acreditam no liberalismo econômico tanto quanto os próceres da esquerda mais
acrônica, defensora de privilégios das corporações do funcionalismo e de
estatais cuja a existência só se justifica por três razões: servir aos
interesses de grupos específicos do setor privado, assegurar privilégios
insondáveis a uma casta de trabalhadores _ em detrimento da maioria que
trabalha no setor privado _ e funcionar como cabide de emprego para os partidos
políticos que estão no poder.
Se um dia Bolsonaro e Dilma Rousseff
entrassem num chat da internet com pseudônimos, não tenham dúvida, a prosa
renderia até uma amizade porque a convergência de ideias nesses temas pulula.
Lula tem, possivelmente, mais de 20% de
eleitores que, faça sol ou faça chuva, votarão nele para presidente no próximo
ano. Ninguém chegou à Presidência da República, desde o retorno da eleição
direta, em 1989, com os votos apenas de seus eleitores cativos. Isto significa
dizer que, para chegar ao Palácio do Planalto, qualquer candidato tem que,
primeiro, contar com o entusiasmo de seus eleitores cativos e, além disso,
convencer uma parcela significativa de eleitores de que, naquele momento, ele é
o sujeito certo para melhorar sua vida.
Portanto, os eleitores “móveis”, a parcela
significativa mencionada anteriormente, elegeu Fernando Collor de Mello em
1989, Lula em 2002 e 2006, Dilma em 2010 e 2014 e Bolsonaro, em 2018. O caso de
Fernando Henrique Cardoso é um pouco diferente porque ele venceu o pleito, em 1994
e 1998, no 1º turno. Pai do Plano Real, que finalmente pôs fim a três décadas
de inflação crônica no país, FHC não deu chance a seu principal oponente nas
duas eleições, Lula, de ameaçar sua vitória. Mas, decompondo-se os eleitores,
chega-se à mesma conclusão - eleitores cativos (que votam na social-democracia
e contra o PT) e votos “móveis” (de quem está satisfeito com o candidato, no
caso, por causa do fim da inflação), formando maioria contra os eleitores
cativos de Lula e da esquerda.
Diante desse quadro, indague-se: de onde
virão os votos de um candidato das “Terceira Via” se os que estão aí não
possuem eleitores cativos nem um força-motriz como o Plano Real? Os eleitores
“móveis”, lembremo-nos, são pragmáticos como o peixe-rêmora, aquele que, preso
ao ventre de grandes tubarões por meio de ventosas, se alimenta dos restos de
refeição desses predadores, sem incomodá-los e também sem serem incomodados -
eles votaram em Dilma porque Lula, bem avaliado pela maioria da população,
assim pediu; na eleição seguinte, enfurecida com o fato de Dilma ter mudado a
política econômica de Lula que a elegeu, parte desses eleitores correu para
tentar eleger o principal oponente da então presidente; no segundo mandato, ela
repetiu os erros do primeiro e foi deposta por ex-aliados antes de completar um
ano e meio de gestão; em 2018, os eleitores móveis, pragmáticos, disseram não
ao PT e ao PSDB (por não fazer oposição ao PT) e fizeram o indizível: eleger
Jair Bolsonaro, o primeiro radical de direita chegar ao poder.
No discurso, esquerda e sociais-democratas
asseveram o interesse em combater o "mal maior" _ impedir a reeleição
do atual presidente. Em entrevista recente ao Valo r, o ex-presidente
FHC mandou um recado às elites e a seus pares de social-democracia: não há candidato
de “Terceira Via” com condições de apear Bolsonaro do poder.
Se Paulo Guedes passar as mudanças do IR no Congresso, Bolsonaro distribuirá uma dinheirama no Nordeste, onde estão os principais beneficiários do Bolsa Família. Some-se a isso à seguinte lista de prováveis boas notícias que podem ajudar o presidente a crescer nas pesquisas: até outubro de 2022, todos os brasileiros estarão vacinados, a economia estará rodando a 6% neste ano e a mais de 3% no ano que vem, o desemprego cederá etc. Subestimar Bolsonaro tem sido um erro recorrente dos políticos tradicionais do país.
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